A hora do avanço sem recuos
Os números recentemente divulgados sobre a economia brasileira confirmam de maneira clara o fim do ciclo de recessão e reforçam a urgência de avançar ainda mais nas medidas para retomar o crescimento. Revelam também que o mercado está se desatrelando gradativamente da agenda política, contaminada, há mais de dois anos, pela crise nos altos escalões da República.
Após seguidos crescimentos do PIB nos últimos dois trimestres, o Banco Central divulgou, na quarta-feira passada, uma nova elevação no índice IBC-BR medido em julho. O indicador aponta que o segundo semestre do ano começou com atividade econômica em alta de 0,41%, em comparação com junho, que também havia crescido 0,55%.
Nos dois casos, os percentuais ficaram acima das projeções feitas pelos economistas das principais instituições financeiras do país. Melhor: apontam, sem rastro de dúvidas, que a reversão da queda é impulsionada pelo consumo das famílias, que vem ganhando fôlego mês a mês, superando as previsões até dos mais otimistas analistas do mercado.
As vendas no varejo registradas em julho tiveram um aumento de 0,2% em relação ao mês anterior, que também havia apresentando uma alta mais robusta, de 2,3%. No mesmo período, a produção industrial subiu 0,8%, fechando quatros meses consecutivos no azul. Algo que não ocorria desde 2012, quando a economia brasileira ainda navegava em mar de almirante.
Nesse caso, o resultado veio igualmente puxado pela expansão do consumo. Embora se verifique saldo positivo em praticamente toda a cadeia industrial, o principal salto se deu na produção de bens de consumo duráveis, com alta de 2,7% em julho, percentual impressionante se considerarmos o cenário de até pouco tempo atrás. No recorte por setor, o de alimentos apresentou o maior impulso.
Os índices ganham importância por um detalhe não previsto pela imensa maioria dos especialistas: os gastos das famílias continuou a subir, mesmo passado os efeitos da liberação, pelo governo Michel Temer, dos recursos retidos em contas inativas do FGTS, medida que deu uma injeção extra de R$ 44 bilhões no mercado.
Isso se deve, para grande parte dos economistas, à queda no preço dos alimentos, efeito da safra agrícola recorde e à retração gradual nos juros básicos. Ambos liberaram mais dinheiro, tanto para os brasileiros que ganham salários mais baixos quanto para os que consomem muito. Com mais dinheiro em caixa, maiores são os gastos da famílias.
Com um horizonte menos nublado, reformas na Previdência e no oneroso sistema tribuário do país permitiram multiplicar o alcance do salto em curto e médio prazos. Para isso, o Planalto tem que manter esforço concentrado na aprovação de tais medidas, sem ceder a interesses não republicanos.
Ainda mais porque, ao que tudo indica, a segunda denúncia apresentada contra Temer pelo procurador-geral Rodrigo Janot deve naufragar na Câmara dos Deputados. Se quiser ter sucesso, o governo deveria adotar como mantra a necessidade de avançar sempre, sem recuar jamais.