Ambiente de trabalho com risco extremo
O local é repleto de riscos à saúde e à vida das mulheres: instalações elétricas ficam próximas à produção da cachaça; 24 irregularidades trabalhistas foram identificadas. O barulho incomoda. Vem de um tanque de metal, um processador que mistura água e açúcar. Disjuntores e fios à mostra estão próximos a pequenas garrafas pet e mangueiras que contêm cachaça. O cheiro forte enjoa. De chinelos, saias e vestidos, elas não usam qualquer tipo de proteção, com exceção de algumas luvas, que, mesmo assim, não são usadas por todos os funcionários: cinco mulheres e um recém-admitido.
O lugar, sujo e improvisado, aparece em imagens de vídeo registradas há pouco mais de 20 dias pelo CORREIO. Com câmeras escondidas, a reportagem entrou no galpão onde funciona a produção da Indústria e Comércio de Vinho Veleiro de Ouro, como é registrada a empresa. A denúncia era de que o dono de uma fábrica de bebidas alcoólicas submetia mulheres a condições degradantes de trabalho. Apesar do nome, a fábrica é de cachaça. E fica instalada em uma rua deserta no bairro de Ilha Amarela, Subúrbio Ferroviário.
Nila, Natércia, Elizete e Maude, nomes fictícios com os quais identificaremos quatro das cinco mulheres, afirmaram que trabalham há anos sem férias, não podem ir ao médico sem ter o dia “cortado”, recebem R$ 400 por quinzena e são obrigadas a enfrentar um ambiente insalubre sem qualquer Equipamento de Proteção Individual (EPI).
Entre elas está a própria esposa do dono da fábrica. A quinta funcionária, Leonice de Souza, 47 anos, não só autorizou a divulgação do seu nome como pediu para ele ser incluído na reportagem. “Quero usar como prova na Justiça para ter meus direitos”, disse ela. Há oito anos em múltiplas funções na Veleiro de Ouro, Leonice conta que não sente mais cheiro. Acredita que seu olfato está prejudicado pelo fato de trabalhar sem máscara em um ambiente sem ventilação e com forte odor de álcool.
Com diversos problemas de saúde, Leonice diz que sequer podia ir ao médico, senão R$ 30 eram abatidos do seu salário. “O patrão não aceita quando a gente precisa ir no médico. Quando libera, corta o dia”. Ela e as outras confirmaram que trabalham sem EPIs. “A farda ele não dá. Na hora de tampar a cachaça, espirra no corpo. Não tem óculos, não tem máscara. Fico com os pés dentro da cachaça. Precisa de bota. Às vezes falta luva. Hoje em dia eu já nem sinto mais cheiro. Consumi tudo cheirando a cachaça.”
TOP CANA
No mercado de Salvador e de Feira de Santana, onde o único produto fabricado pela Veleiro de Ouro é comercializado, a empresa utiliza o nome fantasia Top Cana. Nos registros da Serpro, a Top Cana é de propriedade de Genival Cintra Pinheiro. Após analisar as imagens registradas pelo CORREIO, o Ministério Público do Trabalho (MPT) realizou operação no local e identificou nada menos que 25 irregularidades trabalhistas. As atividades da empresa foram suspensas (veja mais ao lado).
Ainda segundo as trabalhadoras, a fábrica chega a envasar 6 mil litros de aguardente por dia. “É muita cachaça que a gente envasa. Às vezes, a gente envasa seis tanques de mil litros no dia. É muita garrafa para uma pessoa só ficar no pé da máquina tampando todos os dias”, denuncia Leonice.
Não há funções definidas. Leonice explica que todas as funcionárias fazem de tudo. “Eu empacoto, eu tampo, eu