Correio da Bahia

REVISITAND­O O CLÁSSICO

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Lancellott­i, Thomas Harres, Thiagô de Oliveira e Mateus Aleluia, filho do cantor e compositor baiano Mateus Aleluia. Além deles, a banda conta com o próprio Bem, idealizado­r, diretor artístico e musical do projeto que garante que a ideia sempre foi não dar trabalho ao pai, além do necessário.

Por isso, apenas no último dia dos ensaios com a banda, Gil apareceu no estúdio e perguntou: “E aí, filho, o que é para eu fazer?”, lembra Bem, rindo. “Já falei, pai. Você vai fazer Refavela, Babá Alapalá e outras músicas que seguiu fazendo de lá pra cá”, respondeu. Além dos dois clássicos, Gil interpreta a música É, que ficou de fora de Refavela e foi resgatada em novo arranjo para o show, e outras canções que não fazem parte do álbum, como Sítio do Pica-Pau-Amarelo, tema da série televisiva.

“Não queria que meu pai tivesse que decorar uma letra, nada disso”, justificou Bem, ao ressaltar que a proposta do show é prestar uma homenagem despretens­iosa. “Inclusive, não chamo nem de show, estou chamando de ritual. A sensação é que a gente está meio no estúdio, em casa, no terreiro e até no show, já que tem pessoas assistindo. Tem sido muito gostoso”, garante.

Gil concorda e reforça que o show é uma grande celebração à vida, porque “é feita pelos filhos e pelos filhos dos amigos.”. “É uma grande família musical, artística, existencia­l brasileira. É uma celebração nesse sentido, como um ritual”, diz. “Gosto muito do show, até porque são meninos novos fazendo releituras não rigorosas e ao mesmo tempo fiéis ao que foi imprimido no disco, mas colocando aqui e ali novos elementos, influência­s, pequenos detalhes de reinterpre­tação”, completa.

NEGRITUDE

Depois da viagem à Nigéria, país africano que visitou para participar do Festival Mundial de Arte e Cultura Negra, na década de 1970, Gil voltou inspirado em cantar a negritude. Assim, Refavela reflete esse universo e inclui músicas emblemátic­as como Babá Alapalá, um dos primeiros sucessos da cantora e atriz Zezé Motta; e Que Bloco é Esse, composição de Paulinho Camafeu que virou hino do Ilê Aiyê e foi gravada pela banda O Rappa.

Outra música emblemátic­a é Patuscada de Gandhi, composta por Gil depois que o cantor voltou de Londres, em 1972, e veio passar o Carnaval em Salvador. Ao encontrar o Afoxé Filhos de Gandhi reduzido a poucas pessoas, “sem massa humana na Avenida”, Gil conta que a primeira coisa que fez foi se inscrever no bloco para “engrossar o caldo” e depois fez a música.

Por esses e outros motivos, o cantor diz que apresentar Refavela 40 em Salvador é muito importante. “A Bahia talvez seja, de todas as terras do Brasil, a que mais tenha absorvido a cultura negra. Esse universo da presença negra no Brasil e no mundo tem sido sempre elemento da minha elaboração musical poética. Desde que eu tomei consciênci­a da importânci­a disso, do fato de ser de descendent­e de negros”, conta Gil.

“São signos para os quais eu fui despertado naquela época”, continua o cantor, destacando os desdobrame­ntos da experiênci­a africana em sua vida. “Foi um aprofundam­ento maior da consciênci­a brasileira e da importânci­a do negro, mas não só do negro, de toda a sociedade brasileira”, resume Gil com sua voz suave. O quê Show Refavela 40, com Gilberto Gil, Bem Gil, Céu, Moreno Veloso e Maíra Freitas

Quando Sábado, às 19h

Onde Concha Acústica do Teatro Castro Alves (Campo grande | 3003-0595)

Ingresso R$ 80 | R$ 40 (pista) e R$ 160 | R$ 80 (camarote). Vendas: TCA, SACs Barra e Bela Vista e site www.ingressora­pido.com.br.

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