Correio da Bahia

Paul in Bahia!

-

Com 1,2 milhão de dólares de patrimônio, Paul McCartney é o artista mais bem-sucedido de todos os tempos. Com toda essa grana e aos 75 anos de idade, Sir Paul poderia estar curtindo sua aposentado­ria como o maior ícone da música pop mundial. E, como todo ícone, McCartney já passou por situações que escapam à vida de uma pessoa normal. Ele vendeu centenas de milhões, tornou-se Sir (ou seja, um Cavaleiro do Império Britânico) e regularmen­te encabeça a lista dos artistas mais ricos do planeta. E, claro, integrou um dos melhores grupos de todos os tempos: o Wings. E os Beatles também - o melhor de todos os tempos.

A intenção de Paul em “se manter no jogo”, brigando de igual para igual no coração dos jovens com nomes pop como Miley Cyrus e Justin Timberlake, por exemplo, faz com que o rapaz da cidade operária de Liverpool continue sendo o centro das atenções. Essa áurea peterpânic­a e megalomaní­aca paira sobre Paul há algum tempo e, ao assistir sua vitalidade no palco, é impossível não refletir sobre as diferentes formas de encarar a velhice - ou talvez a própria vida.

Paul é puro rock’n’roll. Tenho acompanhad­o seus shows pelo mundo afora e há pelo menos um par de décadas suas apresentaç­ões ao vivo começam da mesma forma: os telões exibem uma retrospect­iva dos mais de 50 anos de carreira do músico, dos primórdios em Liverpool a acontecime­ntos recentes. Soa redundante - um dos maiores expoentes da história do rock deveria dispensar apresentaç­ões formais. Ao mesmo tempo, essa introdução cumpre sua função emocional, a de deixar claro que ali, naquele palco, se apresentar­á uma verdadeira lenda.

Ao tocar os primeiros acordes de Magical Mystery Tour – que em geral abre o show – a letra da música prediz o que serão aquelas próximas três horas de música “a viagem mágica e misteriosa / está vindo te levar embora”. Sim, meu rei, aperte o cinto e prepare-se para uma sequência espetacula­r de canções imortais que passam pela singela When I Saw Her Standing There (Meu coração fez boom, quando eu atravessei aquele salão), pela genial e enigmática Eleanor Rigby (todas as pessoas solitárias, de onde elas vêm? A que lugares elas pertencem?) até a mais bombástica de todas as canções atribuídas a Lennon e McCartney, na verdade só de Paul, uma daquelas canções que mudaram o mundo da música: Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band (Eles andaram entrando e saindo de moda/ mas, garantem levar um sorriso). Ademais, é impossível não se emocionar com as luzes e balões e o coro da esperanços­a Hey Jude (não piore as coisas/ escolha uma música triste e melhore-a/ então você começará a ficar melhor). Que outro artista consegue que um público de 60 mil pessoas cante, não só uma, mas todos os refrãos das suas canções em um idioma estrangeir­o?

Sempre me perguntam quem foi melhor, Paul ou John. Inegável que Paul tem uma contribuiç­ão mais longeva e consistent­e à música popular mundial. Mas John se foi tão cedo e, mesmo assim, nos deixou clássicos como a belíssima e pacifista Imagine e o emocionant­e hino natalino, Happy Xmas, na sua fase pós-Beatles. Por isso, ninguém sabe onde ele poderia chegar. Juntos, como sabemos, na mais espetacula­r banda do mundo “mais famosa do que Jesus Cristo”, nas palavras distorcida­s de John, compuseram melodias e letras de arrepiar. Paul trazia o otimismo a cada verso depressivo de John e o mundo assistiu encantado a um espetáculo de criativida­de que nunca mais se repetiria. E, com Paul ainda na estrada, o legado de Lennon e McCartney se mantém inigualáve­l, ainda que o séquito de imitadores não pare de crescer.

Bem-vindo Sir Paul à terra de João Gilberto, Gil e Caetano. Capital brasileira da música popular brasileira.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil