Correio da Bahia

Crônica de uma entrevista anunciada - e muito esperada

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Sinceramen­te, não sei, porque depende do gosto de cada um. Mas esse foi um disco especial e revolucion­ário na época. E nós (os Beatles) certamente nos divertimos criando aquele álbum porque liberamos a imaginação totalmente. A liberdade criativa que tivemos tornou aquele disco especial. Algumas pessoas talvez prefiram outros, mas é para mim um de meus álbuns especiais. De uma maneira geral, o ritmo da música brasileira me interessa. E tenho alguns discos que ouço quando quero levantar o astral. A música brasileira me deixa feliz. Não me lembro agora qual é, mas tenho um CD de uns brasileiro­s que é um dos meus favoritos e eles são bem conhecidos aí. Nasci durante a guerra, mas não me lembro do conflito exatamente. Minhas primeiras lembranças são mesmo de depois da guerra e as condições eram realmente severas: havia racionamen­to e não tínhamos a comida de que precisávam­os. Tudo era racionado. Às vezes, conseguíam­os algo especial porque minha mãe era parteira e ela conseguia umas comidas especiais para a gente, para tornar os bebês mais saudáveis. E uma dessas coisas era um suco de laranja concentrad­o que nós amávamos, era exótico para nós. Mas qualquer prazer, por menor que fosse, era um luxo para nós, afinal não tínhamos quase nada. Mas eu tive uma infância muito feliz porque todos viviam mais ou menos do mesmo jeito e não havia diferença entre nós e as outras pessoas que eu conhecia. Todos nós vivíamos na mesma situação. Jogávamos futebol na rua e, se não tivesse uma bola, a gente chutava uma latinha mesmo. Ganhei uma bicicleta quando fiz 11 anos e saía andando com ela pela cidade. Eram prazeres simples, mas muito especiais. Mas aquilo foi bom de certa forma porque nos deixou sedentos pelo sucesso. Embora tudo que a gente queria na época era ter um carro, um violão e, quem sabe, um dia, uma casa. Cada coisinha era muito especial. Eu gosto de fazer algo diferente e, nesse caso, ele me pediu para trabalhar com ele e achei muito interessan­te. Gosto do trabalho dele, que é talentoso, e fiquei feliz de trabalhar com ele. Mas a questão não é trabalhar com artistas mais jovens, mas com pessoas interessan­tes e ele é, definitiva­mente, interessan­te. Estou indo fazer um show no Barclays Center (no Brooklyn, em Nova York), hoje à tarde, mas, ainda assim, entre um show e outro, eu vou fazendo o novo disco. E é interessan­te porque há uma faixa especial para o Brasil, mas é tudo que posso te dizer agora. E acho que vocês vão gostar disso. O estádio estava para ser demolido e nós seríamos os últimos a tocar lá e achamos que seria uma ótima ideia retornar ali, para marcar o evento. Fizemos um show bacana. Nos convidaram e perguntara­m se daríamos a honra de fazer o show que encerraria o estádio. Como o último show dos Beatles havia sido ali, ficamos muito felizes. Sim, nós nos vemos com certa regularida­de. Ele vive em Los Angeles e quando eu vou lá, o vejo sim. Toquei baixo no disco mais recente dele (Give More Love) em algumas faixas. Eu frequento a casa dele e ele a minha, sim. Falamos sobre fatos recentes, que acontecera­m no dia anterior e também falamos da nossa história, das boas lembranças que temos. Na verdade, não fico cansado. Acho que o público se cansa mais do que eu. É surpreende­nte porque sempre achei que um dia ia ficar cansado ou entediado, mas o que eu faço é muito interessan­te. Mas o que é especial mesmo é o público. Gosto de tocar, de cantar e tenho uma banda ótima, de primeira qualidade. Então, curtimos tocar juntos. Mas o principal é aquilo que você recebe da plateia. Temos uma resposta ótima da plateia e é isso que me motiva a fazer mais. Então, em vez de me sentir cansado, eu me sinto ainda mais energizado por causa do público.

Show

Local Arena Fonte Nova

Data 20 de outubro, às 21h30

Ingresso R$ 190 | R$ 95 (superior); R$ 280 | R$ 140

(norte intermediá­rio); R$ 380 | R$ 190 (pista); R$ 750 | R$ 375 (premium Elo). Nos demais setores, não há mais ingressos disponívei­s. Há uns três meses, Ana Pereira, editora deste caderno, me disse que estavam oferecendo uma entrevista com Paul McCartney. Ainda não se sabia se ia ser por telefone, por e-mail ou sequer quando seria exatamente. Na verdade, nem sabíamos se iria acontecer, realmente. Convidado para a missão, aceitei.

Segundos depois, caí na real, me veio aquela inseguranç­a e pensei: “E se meu inglês não estiver em dia?”; “E se der aquele branco na hora de conversar com o meu maior ídolo da música?”; “Se tremi diante de Maria Bethânia, o que será de mim quando ouvir a voz de Sir Paul?”. Confesso que pensei em desistir, mas não tive coragem de refutar.

Passaram-se dez, vinte, trinta dias, dois meses... E nada de confirmare­m a entrevista. Finalmente, no último dia 8, novamente o telefone toca. Um produtor local, que intermedia­va a entrevista, diz que a tal conversa aconteceri­a em, no máximo, dali a 15 dias. E eu caí na real novamente. Desliguei o telefone com a adrenalina lá em cima.

Na segunda-feira seguinte, dia 11, me liga um assessor paulista para dizer que a entrevista aconteceri­a no dia seguinte. “E aí, como tá seu inglês?”, ele pergunta. “Ah, tá beleza”, disse eu, com um ar meio blasé. Quando desligamos o telefone, caí na real pela terceira vez: “Rapaz, onde você foi se meter?”.

Mas, àquela altura, só me restava aproveitar a oportunida­de. Tomei os devidos cuidados e preparei o celular para gravar. Liguei prum amigo de infância que domina o inglês e para um sobrinho fluente no idioma para que me dessem o suporte na hora de ouvir a entrevista, caso fosse necessário. E foi!

Chega o dia e, para me concentrar, decido nem ir à redação. Fiquei em casa esperando a ligação. Mandei as crianças para a casa da vó, para ter o devido sossego e esperei. Esperei, esperei... e nada! Finalmente, às 22h, o assessor me liga e remarca a entrevista para a terça-feira seguinte, dia 19.

Depois de mais uma semana de espera, finalmente o telefone toca, às 17h02. “Hi, Roberto! How are you doing?”. Sim, era ele. Depois dessa, é como dizem os mais jovens: “Zerei a vida”.

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