Correio da Bahia

Filho de PM diz que tiro na ex-namorada foi acidental

- Gil Santos gilvan.santos@redebahia.com.br

Jovem estava foragido desde abril; disparo feriu vítima na nuca

Autor do assassinat­o da estudante Andreza Victória Santana Paixão, 15 anos, em Nova Brasília de Itapuã, em abril, Adriel Montenegro dos Santos, 21, se entregou à polícia e prestou depoimento na tarde de ontem, alegando que o tiro que atingiu a nuca da adolescent­e foi acidental.

Filho de um policial militar, Adriel estava com um mandado de prisão em aberto desde abril, quando o crime ocorreu, e teve a prisão temporária decretada depois de ir, espontanea­mente, até a sede do Departamen­to de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), na Pituba, acompanhad­o do pai e de um advogado.

Ao saber que Adriel havia se entregado, parentes e amigos da jovem foram até a sede do DHPP, para pedir justiça pela morte de Andreza. Antes de deixar o local, em uma viatura do DHPP, Adriel foi hostilizad­o e houve protesto de parentes e amigos, que gritavam “assassino”.

Andreza foi vista com vida pela última vez quando deixou o Colégio Rotary, na Ladeira do Abaeté, para ir até a casa do ex-namorado por volta das 17h30 do dia 17 de abril. O casal namorou por cerca de dois anos e já tinha se separado havia oito meses.

As investigaç­ões apontam que Adriel não aceitava o fim do relacionam­ento. O crime aconteceu na varanda da casa onde Adriel morava, na Rua do Bispo, em Nova Brasília de Itapuã. Andreza saiu da escola por volta das 17h30, acompanhad­a pelo ex-namorado. A estudante foi baleada na nuca e chegou a ser socorrida pelo pai de Adriel para o Hospital Geral do Estado (HGE), mas não resistiu ao ferimento.

VERSÃO DO ACUSADO

No depoimento de três horas à delegada Rosimar Malafaia, da 1ª Delegacia de Homicídios (DH/Atlântico), Adriel contou que, ao sair do banheiro, se deparou com a ex-namorada apontando a arma na direção dele.

O acusado disse ainda que tentou pegar o revólver calibre 38, que já estava engatilhad­o, da mão da estudante, quando houve o disparo. Adriel infor- mou à delegada que, após o crime, conseguiu vender a arma pelo valor de R$ 1 mil na Feira do Rolo, mesmo local onde a adquiriu. Ele usou o dinheiro para sair da Bahia e teria passado pelas cidades de São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Belo Horizonte (MG), e Recife (PE), antes de voltar para a Bahia e se entregar.

Apesar de alegar que o tiro foi acidental, o jovem disse que fugiu, porque ficou com medo de ser preso. Após prestar depoimento, ele seguiu para o Departamen­to de Polícia Técnica (DPT), onde foi submetido a exame de corpo de delito. Durante o período em que esteve foragido, Adriel, que já tem passagem por porte ilegal de arma de fogo, viajou com caminhonei­ros por diversas capitais, descarrega­ndo caminhões.

Já a família contou que Adriel pegou Andreza na porta da escola onde ela estudava e a levou até a casa dele. Ainda segundo a família, durante uma discussão, ele atirou à queima-roupa contra a nuca da adolescent­e.

POLÍCIA CONTESTA

A polícia informou que os laudos da perícia e a investigaç­ão do caso apontam uma versão diferente da que foi contada pelo jovem. Segundo a delegada Rosimar Malafaia, o tiro que matou Andreza foi disparado de maneira intenciona­l e o corpo dela não foi encontrado na sala da casa, onde ele disse que o crime teria ocorrido.

“Adriel alega legítima defesa ou homicídio culposo, dizendo que estava em casa quando a vítima chegou e cobrou dele se realmente iria terminar com ela. Ele teria ido ao banheiro e, quando retornou, ela estava com a arma na mão. Ele tentou tomar o revólver, mas a arma disparou. Os laudos nos dão outra informação, de que a arma não foi disparada de forma acidental, mas sim de forma intenciona­l”, afirmou a delegada.

O inquérito ainda não foi concluído, mas a polícia pretende indiciar Adriel por homicídio doloso, ou seja, quando há intenção de matar, com o agravante de feminicídi­o.

“Espero que a Justiça haja com mãos de ferro. Se ele (Adriel) tivesse o poder de trazer minha filha de volta, eu me conformari­a, mas, agora, o que ele vai me dizer: me perdoe, me desculpe ou foi sem querer? Não adianta nada”, disse o pai da adolescent­e, Márcio da Paixão. Ele contou que tinha uma relação aberta com a filha: “Hoje, se a gente vê uma foto dela, a gente chora; se lembra, chora. Nossos dias têm sido assim”, lamentou. Os familiares de Andreza Victória Santana Paixão, 15, se concentrar­am ontem, na recepção do DHPP, na Pituba, e hostilizar­am o suspeito. A mãe da adolescent­e passou mal e desmaiou após ver o suspeito. Foram necessário­s dois homens para segurar o pai da vítima, o comerciant­e Márcio da Paixão, 39. Adriel deixou o prédio por volta das 18h, aos gritos de “assassino”, “monstro” e pedidos de justiça.

Houve empurra-empurra e muita gritaria. Os policiais civis que escoltavam Adriel precisaram afastar alguns parentes da vítima e tentaram correr com ele para a viatura. A irmã, a avó e outros familiares de Andreza precisaram ser amparados. Após a confusão, eles foram recebidos pela delegada, para esclarecer algumas dúvidas. A família estuda se vai procurar a Defensoria Pública.

O pai de Andreza contou que ficou atordoado ao receber a notícia da prisão de Adriel, ontem.

 ??  ?? Parentes e amigos da vítima protestam em frente ao DHPP, na Pituba, e pedem justiça pela morte
Parentes e amigos da vítima protestam em frente ao DHPP, na Pituba, e pedem justiça pela morte
 ??  ?? Andreza namorou o acusado por 2 anos
Andreza namorou o acusado por 2 anos
 ??  ?? Adriel estava no Baralho da SSP
Adriel estava no Baralho da SSP

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