Morre, aos 83 anos, Guido Araújo, criador da Jornada de Cinema
LUTO Morreu ontem, aos 83 anos, o cineasta baiano Guido Araújo, criador da Jornada Internacional de Cinema da Bahia, um dos mais importantes eventos dedicados à sétima arte no estado. Guido estava internado no Hospital Português, em Salvador. Ele sofria de Mal de Parkinson e teve falência de múltiplos órgãos. A cremação será realizada hoje, às 10 horas, no Cemitério Jardim da Saudade. Nascido em Castro Alves, no Recôncavo Baiano, Guido foi professor da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (Ufba). Como documentarista, dirigiu filmes sobre o interior da Bahia como Maragogipinho (1968), Feira da Banana
(1974) e A Morte das Velas do Recôncavo (1975).
Em 2015, ele foi homenageado na sexta edição do CachoeiraDoc. No ano anterior, tinha sido homenageado pela Associação de Produtores de Cinema do Norte e Nordeste, na 24ª edição do Cine Ceará. Recentemente, a série O Senhor das Jornadas, dirigida por Jorge Alfredo Guimarães e transmitida pela TVE, lembrou a trajetória de Guido desde os tempos em que ele integrou o Coletivo Moacyr Fenelon, ao lado do cineasta Nelson Pereira dos Santos. Guido atuou no departamento técnico de filmes como Rio 40 Graus (1955) e Rio Zona Norte (1957), ambos de Nelson Pereira. A série também acompanha a vida do cineasta durante o tempo em que ele viveu na antiga Tchecoslováquia - onde conheceu a esposa, Mila. Ali, Guido ajudou a difundir o cinema baiano no festival Karlovy Vary.
Nas redes sociais, amigos se manifestaram. O também professor da Ufba Albino Rubim escreveu: “Perdemos mais um amante do cinema, da democracia e da justiça social. Sua vida foi uma jornada de jornadas pelo cinema e por um mundo melhor”. O cineasta Cláudio Marques (Depois da Chuva) ressaltou a relevância da Jornada: “Foi muito importante nos anos 70, como espaço de liberdade de expressão e amor ao cinema. O lema da jornada, ‘por um mundo mais humano’, nunca me pareceu tão importante como atualmente”. Umbelino Brasil, professor da Ufba, destacou que o amigo “trouxe a nata do cinema europeu e do cinema hispânico para os festivais e formou uma rede de cineastas. E trouxe filmes fora do circuito comercial num período muito importante”. O ator Wagner Moura também se manifestou: “Guido e a Jornada marcaram uma época de resistência do cinema na Bahia. Fui seu aluno, e seu amor pelos filmes era bonito, genuíno e contagiante”.