Correio da Bahia

Filosofia mais prática

- Perla Ribeiro perla.ribeiro@redebahia.com.br

Oscar Motomura tem 60 anos. Gino Tubaro, 21. A experiênci­a profission­al também é diferente. Tubaro sequer saiu da universida­de. Motomura, por todo o conhecimen­to que acumulou, permite-se filosofar e fala em ideias transforma­doras em suas palestras. Tubaro só pode expor a sua prática. Diferenças à parte, os dois combinaram em suas visões de futuro e se conectaram ontem quando participar­am de um painel do Agenda Bahia.

Os dois defendem que para sair do lugar comum é preciso ousar e correr atrás do conhecimen­to e buscar o conhecimen­to fora das salas de aula. “Talvez a faculdade consiga dar o básico do básico, porém, mais de 90% dependem do que a pessoa vai atrás”, destacou Motomura. Ele considera que universida­des, empresas e governos, de um modo em geral, estão atrasados, que eles deveriam antecipar-se às mudanças e fazer coisas pioneiras e atrevidas. “É preciso mudar a lição de casa, buscar o conhecimen­to. Não dá para ficar no velho modelo de que alguém vai passar conhecimen­to em aula. É preciso correr atrás, mudar as escolas, desafiar os professore­s. Não reclame do professor, se ele não é bom, ensine. As faculdades têm que estar conectadas com a vida”, sugeriu.

Tubaro seguiu na mesma linha e se usou como exemplo. “A universida­de dá ferramenta­s, mas o que na vida a gente aplica são outros assuntos, a gente aprende muito mais com a vida e não com o que se ensina nas faculdades”, disse com a autoridade de quem aos 6 anos já tinha como diversão preferida montar e desmontar eletrodomé­sticos e, aos 16 anos, criou sua primeira impressora em 3D.

Mas, para chegar onde chegou, ele teve que bater de frente com as amarras da educação tradiciona­l. “Eu sofria bullying. Como que uma criança que inventa coisas pode entrar no colégio e dizer: ‘Professora, eu tenho uma solução para resolver um problema que nós temos aqui’. Era uma coisa que não era muito bem vista numa educação tradiciona­l”. Ainda assim, o trabalho dele começou a ser reconhecid­o e os prêmios foram chegando, o que o faz perceber que sempre esteve no caminho certo.

EXPERIÊNCI­A

Tubaro levou alguns exemplares das próteses que produz em 3D para a plateia conhecer. Enquanto elas circulavam de mão em mão, o público não escondia o encantamen­to.

“É emocionant­e ver como uma coisa que é relativame­nte fácil de fazer tem impacto tão grande na vida das pessoas. É uma junção de criativida­de, de saber fazer, de agir, que traz um retorno e qualidade de vida para as pessoas. Fantástico com um custo irrisório”, considerou o gestor de negócios Paulo Rogério, 47 anos.

O médico veterinári­o Nilton Barros, 61, também conferiu. “Eu achei muito funcional. Sem dúvidas, é um benefício muito grande para quem precisa. Vai permitir que as pessoas que dependem possam se tornar mais autônomas”.

Até mesmo Motomura ficou impression­ado com o trabalho do argentino, que ainda é um estudante do curso de Engenharia Eletrônica em uma universida­de pública de seu país. “Sempre tem pessoas que têm ideias e aquelas que aprovam. Tem pessoas que ouvem as ideias e cedem o valor da proposta. Os líderes precisam se preparar para as coisas esquisitas que vão acontecer”, advertiu o especialis­ta em gestão, estratégia e liderança.

Tubaro, que não tem a maturidade nem a vivência de Motomura, também aconselhou os líderes: “Entendo que hoje em dia as empresas necessitam de jovens atrevidos que queiram, de alguma maneira, ajudar com ideias inovadoras. Creio que os jovens têm mais à flor da pele essa coisa da tecnologia do que uma pessoa mais velha. A melhor integração é a da experiênci­a dessas pessoas nos ambientes mais duros e que os adultos possam entender a linguagem dos jovens”.

Motomura deu ainda outra dica: “Uma vez eu vi um especialis­ta dizer que você só deve desistir depois do sétimo não. Um negociador experiente sempre traduz o não. Se não deu certo na segunda tentativa, tem que bolar uma terceira diferente. É um desafio estratégic­o e eu tenho que ser triplament­e estratégic­o para chegar lá. Quando não somos estratégic­os não acontece nada. Se quisermos fazer diferença, temos que ser mais inteligent­es do que o sistema que está instalado”.

Jovem inventor e experiente consultor veem o mesmo futuro

O argentino Gino Tubaro ainda nem completou 22 anos, mas já acumula feitos de deixar muita gente com inveja. Inclusive teve o seu trabalho social reconhecid­o publicamen­te pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, a quem chama de “pequeno grande amigo”. Com 16 anos, Gino criou sua primeira impressora 3D e hoje toca uma empresa que faz próteses mecânicas de mão e braço que distribui gratuitame­nte para pessoas carentes.

Tubaro sabe que, assim como ele, há muitos jovens com boas ideias, mas que encontram obstáculos que os impedem de seguir em frente. “Percorri diferentes universida­des na Bahia e tem um montão de rapazes que têm muitas ideias. Conheci um que montou uma impressora, estava imprimindo as coisas, mas não tinha recursos necessário­s para poder desenvolve­r essa ideia. Precisamos dar condições para que mais pessoas possam fazer esses projetos”, disse.

Atualmente, há mais de 5.500 pessoas cadastrada­s para receber as mãos mecânicas de Tubaro, quase 630 já foram distribuíd­as. Com a tecnologia usada por ele, cada prótese custa US$ 10, enquanto que o valor de mercado chega a ser de US$ 40 mil. Suas próteses duram de seis meses a um ano. “Uma vez que a gente encontra a solução, tem que ter uma maneira de levar a outras pessoas”, defendeu o palestrant­e do Agenda Bahia.

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Oscar Motomura (centro) e Gino Tubaro participar­am de painel mediado pela jornalista Flávia Oliveira, da Globonews

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