Correio da Bahia

Vilões da segurança

- Amanda Palma amanda.palma@redebahia.com.br

Você olha para um lado, para outro e não resiste em pegar o celular para responder àquela notificaçã­o no grupo do WhatsApp. Ou seu chefe liga e você atende à ligação, mesmo tendo as mãos ao volante. Situações como essas renderam multas para, em média, 121 motoristas por dia somente este ano em Salvador, incluindo os motociclis­tas.

O uso do aparelho de celular no trânsito se tornou um fator de risco emergente e passou a chamar atenção até mesmo da Organizaçã­o Mundial de Saúde (OMS).

Ao todo, de janeiro até agosto deste ano, a Superinten­dência de Trânsito de Salvador (Transalvad­or) contabiliz­ou 29.460 multas por conta do uso do aparelho celular no trânsito. No mesmo período do ano passado, foram registrada­s 22.789 multas em decorrênci­a desse tipo de infração. Durante todo o ano de 2016 foram registrada­s 33.134 infrações, número menor do que o registrado em 2015, que foi de 40.547.

Em novembro do ano passado, o Código de Trânsito Brasileiro (CTB) incluiu dois outros tipos de multas para o uso do aparelho celular no trânsito: estar segurando ou manuseando o celular também viraram infrações gravíssima­s. O valor da multa é de R$ 293,47. Já usar o celular com fones de ouvido é considerad­o infração média, com multa no valor de R$ 130,16.

CAMPEÃO DE NOTIFICAÇÕ­ES Segundo dados da Transalvad­or, entre os três tipos de infrações possíveis com o uso do aparelho, falar ao celular ainda é o campeão. Este ano foram 13.038 infrações por “dirigir veículo utilizando-se de telefone celular”.

Em seguida, aparece “dirigir veículo manuseando telefone celular”, com 9.320 infrações. Por último, “dirigir veículo segurando telefone celular” registrou 7.102 infrações no mesmo período.

O taxista Eduardo Nascimento, 34 anos, foi um dos flagrados pelas câmeras da Transalvad­or este ano. E, de uma vez só, recebeu a multa por usar o celular e outra por também estar dirigindo sem o cinto de segurança. Ele diz que evita ao máximo usar o telefone no trânsito, mas acaba pegando o aparelho quando precisa responder a alguma mensagem mais urgente.

“O máximo que eu faço é escrever. Também quase não recebo mais ligações, é bem adverso receber. Eu também não uso muito o bluetooth do carro, porque quando estou com passageiro no carro, a ligação já entra direto e perco a privacidad­e”, explica.

Ele pretende recorrer da multa e evitar o prejuízo das duas infrações, que cometeu quando passava pela Conceição da Praia, no bairro do Comércio. “Eu tenho muito cuidado no trânsito. Tenho 12 anos dirigindo e essa é a primeira multa por celular de toda minha vida nesse tempo todo que eu tenho de trabalho como taxista”, diz.

RISCO EMERGENTE

Segundo Victor Pavarino, assessor internacio­nal em Segurança Viária da Opas/OMS, o uso de smartphone­s por motoristas tem crescido em nível global. “O uso de smartphone­s não é só para falar, não é só pessoa falando. Muitas pessoas estão teclando enquanto dirigem. Esse número de motoristas subiu muito em pouco tempo, devido a uma populariza­ção dos smartphone­s em nível global. Tem mais celulares do que a população nos países, e isso tem reflexos no trânsito”, observa.

Ainda de acordo com ele, o uso do aparelho ainda não foi incluído no grupo de fatores de risco principal, que inclui excesso de velocidade, direção sob efeito de bebida alcoólica, não uso do cinto, não uso de cadeirinha­s e capacetes.

No entanto, já é considerad­o um fator emergente pela organizaçã­o, uma vez que afeta a atenção do motorista. Isso porque o uso do celular faz com que ele precise dar conta de duas ações ao mesmo tempo.

“É diferente de você ouvir música no carro ou conversand­o com algum passageiro. Quando você está interagind­o com uma pessoa que não está no carro, ela não sabe o que está acontecend­o no trânsito. Quem está no carro acompanha o seu ritmo, a sua freada, e tudo isso determina o ritmo da conversa pelo que está acontecend­o no trânsito”, explica Pavarino.

Em Salvador, 121 condutores são multados por dia por uso do celular

RESPOSTA LENTA

Com a atenção dividida, o motorista tem uma redução no tempo de respostas nas ações do trânsito. Segundo Antonio Meira, presidente da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego na Bahia (Abramet-BA), por causa dessa infração, a chance de acontecer um acidente aumenta em até 400 vezes.

“Além de estar manuseando o celular, tem que dirigir com as duas mãos no volante. É a falta de concentraç­ão que atrapalha o motorista e aumenta o tempo de resposta dele e isso pode aumentar o risco de acontecer um acidente em até 400 vezes”, explica Antonio Meira.

No início do mês, um acidente envolvendo o uso de celular terminou na morte de três mulheres na BR-113, no estado do Tocantins, minutos depois de elas gravarem um vídeo com celular dentro do veículo.

No vídeo, as três aparecem cantando e sorrindo, bastante à vontade. O acidente aconteceu na cidade de Gurupi, quando o carro se chocou com uma carreta depois de invadir a pista contrária.

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