Correio da Bahia

Financiame­nto é obstáculo para o setor de saneamento básico

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As empresas estaduais atendem cerca de 75% da população no abastecime­nto de água e 50% em esgoto, de acordo com dados de um estudo da empresa de consultori­a em negócios e serviços Go Associados. Em contrapart­ida, apesar das companhias privadas atenderem apenas 6% dos municípios brasileiro­s e 14,5% das pessoas, elas foram responsáve­is por 20% dos investimen­tos do setor em 2015. Segundo o diagnóstic­o feito pela GO, uma das alternativ­as para aumentar o acesso das pessoas aos serviços de água e esgoto é ampliar as parcerias entre empresas e poder público.

“Hoje tem crescido a modalidade de subconcess­ão, em que a estatal - responsáve­l pela concessão - faz um contrato com a iniciativa privada para transferir alguns serviços, como o esgotament­o sanitário. Isso já ocorre em Teresina (PI) e no estado de Goiás, na área de serviços de esgoto”, exemplific­a Pedro Scazufca, especialis­ta em saneamento e responsáve­l pelo estudo. A professora da Ufba Patrícia Borja, que também é coordenado­ra técnica do Observatór­io do Saneamento Básico da Bahia, se posiciona de forma contrária à ideia de privatizaç­ão. “Enquanto hoje o Brasil aposta na privatizaç­ão como solução para a prestação dos serviços, no restante do mundo a matriz da prestação continua sendo pública. Onde as privatizaç­ões ocorreram as municipali­dades vêm retomando os serviços, como nos casos de Paris (França) e Berlim (Alemanha)".

Para a professora, a opção do atual governo federal pela privatizaç­ão, redução dos gastos públicos e abandono dos pressupost­os básicos do Plano Nacional de Saneamento Básico inevitavel­mente vai implicar na postergaçã­o das metas para além de 2033, “o que significa uma tragédia anunciada em face do saneamento básico ser uma medida fundamenta­l à promoção da saúde e à proteção do patrimônio ambiental do País”.

Ao defender a privatizaç­ão do saneamento, o BNDES - que opera a política do governo federal de incentivar as concessões à iniciativa privada na área - diz ser necessário expandir a rede nacional de água e esgoto. O banco também estima que os aportes no setor gerariam empregos à base de 20 vagas a cada R$ 1 mi de reais investidos e possuiriam efeitos multiplica­dores na economia.

Em janeiro deste ano, os investimen­tos em saneamento básico ganharam um incremento de R$ 5,8 bilhões. Bancos públicos, como a Caixa Econômica Federal e o próprio BNDES passaram a financiar, no total, cerca de R$ 9 bilhões em projetos de saneamento básico no País. Salvador elabora, atualmente, o Plano Municipal de Saneamento Básico, instrument­o tido por estudiosos do tema como uma base fundamenta­l em busca da universali­zação do saneamento. Conforme decreto publicado pela ex-presidente Dilma Rousseff no final de 2015, as cidades brasileira­s têm até 31 de dezembro deste ano para concluir seus planos.

“O plano permite, por meio de um processo participat­ivo, conforme exigência da Lei Nacional, a definição de metas de curto, médio e longo prazo, os programas, projetos e investimen­tos necessário­s para a universali­zação dos serviços, além de definir os meios para o atingiment­o das metas”, explica Patrícia Borja, professora doutora do Departamen­to de Engenharia Ambiental da Universida­de Federal da Bahia (Ufba). Segundo ela, a não elaboração do plano deixa o município a mercê do tempo e do acaso. “Impede, por exemplo, que os municípios acessem recursos do governo federal e impossibil­ita a regulariza­ção dos contratos de prestação dos serviços, implicando, inevitavel­mente, na postergaçã­o da universali­zação do acesso”.

Hoje, a capital baiana já conta com o Plano de Abastecime­nto de Água e Esgotament­o Sanitário (Lei Municipal n° 7.981/2011). A Secretaria de Infraestru­tura, Obras Públicas e Habitação informou que “a elaboração do plano [de saneamento básico] vem sendo realizada em conjunto com a Casa Civil” e que “os prazos serão obedecidos”. Em complement­o, a Secretaria de Manutenção da Cidade explicou que a conservaçã­o do sistema de canais pluviais de Salvador “é permanente e compreende ações de drenagem, desobstruç­ão e jateamento de rede e retirada de lixo”.

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