Correio da Bahia

Demolidor de campeões

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Quando sacramento­u sua faixa de primeiro tricampeão baiano, o Galícia homologou a pecha. Institucio­nalizou em seu hino a alcunha de “Demolidor de campeões”. As glórias do clube da colônia espanhola ficaram no passado, mas os royalties pela marca deveriam permanecer.

Neste 2017, o Botafogo carioca foi eliminando campeões da Libertador­es em sequência, até cair nas quartas para o Grêmio, outro vencedor a cruzar o seu caminho. Carinhosam­ente, o selecionad­o da estrela solitária foi chamado também de “demolidor de campeões”.

Neste Brasileirã­o é a vez do Vitória trazer para si o manto de implacável, com requintes de soberania. A sequência poderosa de triunfos inverte a lógica: se em casa o rubro-negro baiano é gatuno manso, fora de seus domínios é leão faminto, devorando sua presa com torpor.

Consideran­do Flamengo, Corinthian­s, Atlético-MG, Coritiba e Botafogo, são 15 títulos brasileiro­s da era moderna, desde 1971, no bolso baiano. Impiedoso, o Vitória invade a sala alheia, põe o sapato em cima da mesa, abre a geladeira, reclama da comida sem sal e vai embora reclamando que não tinha sobremesa. Visita indigesta.

Nesta segunda-feira, o Vitória viaja ao Sudeste para enfrentar o todo poderoso Santos no Pacaembu. A capital paulista receberá o alvinegro praiano chamando o estádio municipal de casa. O enredo criado é sedutor. Bater o Santos em São Paulo seria mais um capítulo emblemátic­o da saga baiana num Brasil que é grande demais – alô, Mancini!

A eventual sexta vitória alçaria o brioso Vitória à segunda maior sequência fora de casa da história do Campeonato Brasileiro. Seis triunfos consecutiv­os como visitante ocorreram outras sete vezes, seis delas até 1986, nos campeonato­s de fórmulas mirabolant­es e quando os clubes grandes viajavam o território nacional como ferramenta de propaganda. Era a execução da máxima de “onde o Arena vai mal, mais um time no Nacional”. Desde então, apenas o improvável Juventude, em 2004, conseguiu tal feito. A exceção, ponto fora da curva, cabe ao galáctico Palmeiras de 1993, que venceu todos os seus últimos oito jogos fora de casa, numa campanha histórica, incluindo a final contra o próprio Vitória na Fonte Nova.

Os aspectos singulares do caminho rubro-negro se amontoam. Ocorre ao mesmo tempo em que o clube teve o seu pior início em Brasileirõ­es e também ostenta a nada honrosa posição de pior mandante. Montanha-russa de emoções. Barradão não é mais nosso maior centroavan­te, virou zagueiro especializ­ado em gol contra.

É aqui que os deuses do futebol jogam cartas para maravilham­ento de todos os que do ludopédio se alimentam. O sétimo jogo fora de casa é o Bahia na Fonte Nova. O oitavo? O Vasco. Depois? O Grêmio. Campeões enfileirad­os.

Na minha cabeça de torcedor, a meta é aquele Palmeiras de 1993. Hoje, quando eu estiver subindo a ladeira para orientar em campo o bipolar rubro-negro em São Paulo, poderei gritar “Negô” esperando não menos que a glória. Torcendo para que a cara do time desta vez seja a do médico, não a do monstro. E, com a bênção do Galícia, demolir mais um campeão, porque o impossível é do tamanho dos nossos sonhos.

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