Após morte, Santa Cruz fica sem ônibus
Um mês depois de ter o transporte público interrompido, o bairro de Santa Cruz está mais uma vez sem ônibus. O motivo? O mesmo: a falta de segurança. Na tarde de ontem, Erivelton de Assis Santos, 22 anos, morreu durante uma ação da Polícia Militar na região. Moradores dizem que ele era pedreiro e não tinha envolvimento com o tráfico de drogas. Já a polícia afirma que Erivelton era traficante e tinha histórico de prisões.
Segundo os moradores, a confusão começou por volta das 15h30. Eles contaram que Didia, como Erivelton era conhecido, passou o dia trabalhando com o tio, rebocando uma casa, na Santa Cruz. Por volta das 15h, ele teria saído para ir a uma venda e estava voltando para casa quando foi baleado. O pedreiro Almir Francisco dos Santos, 57, confirma a versão. Ele é tio da vítima.
“Ele estava trabalhando comigo. Peguei um serviço para rebocar uma casa na Rua Onze de Novembro e passamos o dia juntos. Quando foi umas 15h, ele saiu para comprar pacaia, um cigarro que ele usava, e na volta encontrou com a polícia. Eu estranhei a demora dele em voltar e quando fui ver o que estava acontecendo, soube que ele foi baleado na porta de casa”, disse.
A polícia tem outra explicação para o caso. Segundo a Secretaria da Segurança Pública da Bahia (SSP-BA), a versão de que Didia era pedreiro é falsa. Em nota, a instituição informou que equipes do Pelotão Especial Tático Ostensivo (Peto) da 40ª Companhia Independente da Polícia Militar (CIPM/Nordeste de Amaralina) foram intimidadas por Erivelton quando entraram na Travessa Disneylândia e, por isso, revidaram. O jovem foi baleado e socorrido para o Hospital Geral do Estado, mas já chegou sem vida.
ÔNIBUS QUEIMADO
Depois que a morte de Erivelton foi confirmada, moradores foram até a Rua Onze de Novembro, a principal da Santa Cruz, e fizeram uma manifestação. Durante o protesto, um ônibus foi incendiado.
As chamas destruíram completamente o veículo, e obstruíram a passagem de outros coletivos. Resultado: cinco ônibus que estavam no fim de linha não tiveram como deixar o bairro até que a carcaça fosse retirada. O diretor de Saúde e Segurança do Sindicato dos Rodoviários da Bahia, Pedro Celestino, informou que, por conta da insegurança, o transporte seria suspenso.
“Deslocamos o final de linha para o Parque da Cidade e estamos pedindo apoio da polícia para retirar cinco carros que ainda estão lá dentro do bairro. O serviço foi suspenso e ainda não há prazo de quando será retomado”, disse, no final da tarde de ontem.
Em setembro, o transporte público no bairro também foi suspenso depois que uma pessoa morreu, cinco foram presas e outra apreendida durante uma operação da polícia na Santa Cruz. Na época, outras mortes foram registradas no Nordeste de Aamaralina e no Vale das Pedrinhas, deixando todo o complexo sem ônibus. A Secretaria Municipal de Mobilidade (Semob) informou que, de janeiro até ontem, 13 ônibus foram incendiados na cidade - cada veículo custa, em média, R$ 300 mil.
Na situação de ontem, a polícia afirmou que foram criminosos, se intitulando de manifestantes, que colocaram fogo em entulhos e no ônibus. A 28ª Delegacia (Nordeste de Amaralina) e o Grupo Especial de Repressão a Roubos em Coletivos (Gerrc) investigam o caso.
Ainda segundo a SSP-BA, Erivelton estava armado com um revólver calibre 38 e foi baleado depois de atirar contra os militares. Os policiais encontraram munições de calibres 38, 9mm e . 40, 90 pedras de crack e uma porção de maconha com o homem. Todo material foi apresentado na Corregedoria da PM.
Já os moradores dizem que a arma e as drogas não estavam com o jovem quando ele foi baleado,eque,duranteaação,policiais atiraram também em um cachorro e na casa em que a vítima morava com a mãe. Didia era o caçula de nove irmãos, não era casado e não deixou filhos. O local e horário do sepultamento ainda não foram divulgados.