Números ao vento
Mesmo fora da pauta diária dos noticiários nacionais quando o assunto é crescimento da violência, a Bahia foi considerada pelo 11º Anuário Brasileiro de Segurança Pública o estado com maior quantidade de mortes em números absolutos. É no mínimo questionável que a avaliação publicada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública não reflita o sentimento geral dos cidadãos brasileiros que assistem diariamente a crise no setor, muito mais cruel em outros estados. A Força Nacional e o Exército que o digam.
De antemão, é preciso dizer, de forma clara, sem medo de errar, que a Bahia não é o estado mais violento no país. Nem se tratando de números absolutos, nem por 100 mil habitantes. Da mesma forma que posso garantir que o nosso estado, se não for o mais transparente na divulgação dos dados de criminalidade, está nesse seleto grupo.
Dito isso é preciso esclarecer como ele é realizado. Os 26 estados e o Distrito Federal, de formas diversas, diga-se de passagem, realizam os registros dos crimes ocorridos nos seus territórios, cada um à sua maneira de classificação, e são esses dados os coletados para a realização do anuário. Aí surge o primeiro equívoco do estudo: a comparação igualitária para dados diferentes.
A Bahia é comparada, de igual para igual, com estados que se negam a contar cada morte como um crime – alguns informam apenas o número de ocorrências e não de vítimas. Também há federações que não preenchem a categoria de “mortes a esclarecer”, que em alguns estados chega a se equiparar com a quantidade de homicídios comprovados e essas são só algumas divergências.
Esta edição do Fórum consegue ser ainda mais injusta com a Bahia. Ela ignora o aumento de 10,48% nos investimentos em segurança pública, de 2015 para 2016, apenas porque não considerou que o pagamento da folha policial passou a ser classificada em outra categoria pela Secretaria de Planejamento. Ou seja, esqueceu de contabilizar mais de R$ 3 bilhões em investimentos com as polícias, pelo simples fato de a informação estar em outra célula da planilha de Excel.
Sem desacreditar a boa vontade do Fórum - que diz ter criado o anuário sob a justificativa de que contribuiria na realização de diagnóstico para a elaboração de um Plano Nacional, que possa ajudar os estados no enfrentamento do problema da violência - penso que outras formas de colaboração devem ser consideradas, já que, apesar de estar na 11ª edição, os resultados efetivos não estão chegando para os estados, pelo menos não para a Bahia, que há anos arca sozinha não só com os investimentos no setor Segurança Pública, mas com os desgastes e prejuízos de imagem de um estudo raso, que por vezes chega a levantar questionamentos sobre o seu principal objetivo.