Juiz nega pedido de suspensão de peça que mostra Jesus travesti
NOVA DECISÃO O juiz Benício Mascarenhas Neto, da 11ª Vara Cível e Comercial de Salvador, negou o pedido de suspensão do espetáculo O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu, impetrado no último dia 26 pelo deputado estadual Pastor Sargento Isidório. Na peça, Jesus Cristo é vivido pela atriz, professora e ativista Renata Carvalho, que é transexual. A decisão, no entanto, não libera a exibição da montagem no Espaço Cultural Barroquinha, uma vez que a suspensão da peça naquele local ocorreu por decisão do juiz Paulo Albiani Alves, em resposta a outro pedido, impetrado na 12ª Vara Cível de Salvador, assinado por Alexandre Santa Rosa Oliveira, entre outros. Ainda assim, a montagem foi exibida no Goethe Institut, no Corredor da Vitória, já que a determinação judicial proibia a exibição especificamente no Espaço Cultural Barroquinha, administrado pela Fundação Gregório de Matos. Caso a FGM descumprisse o mandado, pagaria multa de R$ 1 milhão. No texto que nega o pedido, Benício Mascarenhas afirma: “Em nenhum momento, percebi qualquer ato que pudesse desqualificar Jesus Cristo, ao contrário, faz uma comparação atual do sofrimento deste magnífico homem, com outro de sexualidade diversa da sua, mostrando a incompreensão e a intolerância humana”, afirmou. O juiz reconhece que, embora tardia, sua decisão precisava se tornar pública: “Eu poderia simplesmente afirmar que a liminar está prejudicada, posto que, sendo hoje, 30 de outubro de 2017, esta decisão não poderia alterar fatos passados, contudo, diante de tanta polêmica, entendo que devo me expressar sobre o tema, para que não pareça omissão”, anotou. Em outro trecho, o juiz manifesta-se contra a intolerância: “Jesus Cristo esteja acima deste tipo de debate, que nada acrescenta e só traz sofrimento e rejeição a quem é discriminado por sua opção sexual. A intolerância, seja de que tipo for, não ajuda em nada”. Ao CORREIO, Fernando Guerreiro, presidente da FGM e diretor teatral, afirmou estar preocupado com a onda moralista que cresce no Brasil: “Vivemos um momento complicado: o Masp agora impõe censura de 18 anos a uma mostra de arte e ontem houve proibição a um show de Caetano Veloso. Precisamos ficar atentos para que a intolerância não avance, nem atrapalhe o fazer cultural no Brasil. E há algo muito grave: a decisão proibindo a exibição foi tomada por pessoas que não assistiram à peça”, disse.