Correio da Bahia

Cantor brilha em álbum que inclui versão suave de Me Adora, de Pitty

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Mineiro radicado em São Paulo desde 2015, depois de viver oito anos no Rio de Janeiro, o cantor e compositor César Lacerda, 30 anos, se considera um “caetanista” em influência estética musical, incluindo a admiração por João Gilberto que ele traz naturalmen­te no seu canto doce, em afinidade com as lições que o tropicalis­ta aprendeu e ampliou em repertório - com o mestre de Juazeiro.

Essa referência que alimenta a personalid­ade própria de César, bem como uma ambição artística de dialogar com o grande público para além do universo indie, é um dos muitos encantos do seu quarto e ótimo álbum, Tudo Tudo Tudo Tudo (YB Music/Circus), trabalho produzido por Elisio Freitas e dirigido artisticam­ente por Marcus Preto (Gal Costa, Mallu Magalhães).

“Eu e Marcus viemos elaborando a ideia desse disco desde 2015. Queríamos canções bonitas e com letras diretas. Compus 30 músicas pensando assim”, conta o artista, também um multi-instrument­ista que toca violões de aço e de náilon, piano, flauta e glockenspi­el (instrument­o idiofone percussivo) no álbum.

Oito músicas desse baú compõem o repertório de Tudu Tudo Tudo Tudo, mais uma feita em parceria com Romulo Fróes (com quem ele lançou o ótimo álbum O Meu Nome É Qualquer Um, em 2016) e a regravação de Me Adora, de Pitty.

O grande hit rock’n’roll da cantora baiana, de 2009, vira uma canção suave entre a bossa e “uma milonga de Jorge Drexler”, com a interpreta­ção dando um novo sentido ao próprio modo da pronúncia da palavra “foda”. Pitty, inclusive, escreveu para César Lacerda elogiando a versão.

Diversific­ado, o álbum vai da balada (Por Que Você Mora Assim Tão Longe?) ao folk (Quando Alguém, com participaç­ão de Maria Gadú), passando pelo samba-canção (Percebi seus Olhos em Mim), soul funk (a homoerótic­a O Homem Nu), blues (Fim da Linha), pop country (Sei Lá, Mil Coisas) e o samba do Recôncavo Baiano (O Marrom da sua Cor), tudo com elegância.

Nas letras, o afetivo César Lacerda move-se entre o pessoal e o universal, de reflexões sobre os 30 anos à finitude que paira sobre tudo. “Vou te contar/ que tudo, um dia, vai passar/ essa falta de dinheiro, essa crise, esse governo/ esse grito preso de que tudo mais vá pro inferno/ o temor disso durar por muito tempo, ser eterno/ eu te digo: tudo acaba! tudo tudo tudo tudo/ah! isso também vai passar!/ essa canção/ isso também vai passar! nós dois”, canta em Isso Também Vai Passar.

Em um belo texto sobre o álbum, o escritor português Valter Hugo Mãe diz: “César Lacerda é um arma contra toda a atrocidade. Sua candura não é inocente, é sábia. Ele deita por sobre nós inteligênc­ia profunda: afeto e esperança”. Verdade, pois.

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