Sessenta mil propriedades rurais estão em Feira
cultor José Francisco dos Reis, 54, que há pelo menos 20 anos cultiva hortaliças na Rua da Horta.
No caso dele, a recessão veio cedo. Natural de Poço Verde, município sergipano com pouco mais de 20 mil habitantes, “seu” José Francisco chegou a Salvador na década de 1980. Começou trabalhando como ambulante, mas não deu certo. Decidiu, então, investir na agricultura em Pernambués, onde já morava.
Em seu estado, tinha experiência com plantação de milho e feijão. Aqui, a plantação tinha mais diversidade: alface, couve, cebola. Hoje, só fica no manjericão e na hortelã. “Minha horta começava lá naqueles pés de coqueiro, mas aí fui vendendo a metade, e ficou isso”, explica, enquanto aponta para uma área que seria pelo menos o dobro da atual.
A venda de parte do terreno, segundo ele, foi motivada pelo próprio desinteresse dos filhos. Os três - dois homens e uma mulher - já na casa dos 20 anos não quiseram continuar trabalhando com a terra. Preferiram seguir carreiras administrativas. Ele já não sabe dizer o tamanho da área hoje, mas chega a lucrar entre R$ 300 e R$ 400 por semana.
“Tiro aqui para vender na (feira da) Sete Portas, na Feira de São Joaquim, nas feiras dos bairros... Depois que a gente vai tirando a despesa, dá para levar a vida, mas não é esse salariozão todo, não. Isso aqui já foi bom, criei a família com isso aqui. Não precisou ninguém andar querendo fazer coisa errada, todo mundo viveu com o dinheiro da horta”, disse ele, que mantém ainda uma banquinha no bairro da Santa Cruz, onde vende todo tipo de legume e verdura – tudo comprado nas feiras.
Embora os resultados iniciais indiquem uma prevalência maior de roças em Pernambués, André Urpia afirma que só o resultado do Censo, iniciado no mês passado e previsto para ser concluído no fim de fevereiro de 2018, deve ter um balanço mais fiel.
A coleta de dados na capital também vai chegar aos bairros de Valéria e Cassange e, a partir da segunda quinzena de novembro, às ilhas de Maré e dos Frades, onde estão as únicas áreas consideradas rurais em Salvador, ainda de acordo com o IBGE.
METODOLOGIA
Em todo o estado, Salvador foi a única cidade que não teve uma “lista prévia” de estabelecimentos a serem visitados, devido às grandes distâncias e dificuldades de acesso a determinadas áreas do município (inclusive pela violência urbana). Aqui, o processo está sendo feito pelos supervisores a partir de contatos com sindicatos e associações de produtores.
De acordo com André Urpia, estão sendo utilizadas também imagens geradas por satélite e disponibilizadas por softwares como o Google Maps. Nessas imagens, as equipes procuram áreas verdes entre os aglomerados urbanos.
Carlos José de Santana, 65, está iniciando uma nova horta. Planta jiló, rúcula, alface, coentro e couve em um terreno emprestado. Sergipano, chegou em Salvador aos 14 anos, vindo da zona rural de Conceição do Jacuípe. A despesa (com adubo e água) é uma das maiores dificuldades, além dos pedidos dos vizinhos: “Toda hora pedem ‘um tempeirinho’. Se a gente der, fica o dia todo só para despachar”, brinca o agricultor Antônio Francisco, 62. O levantamento parcial do Censo Agropecuário aponta que a cultura da mandioca, a criação de galináceos (galinhas, galos e pintos) e a pecuária bovina estão se destacando em Feira de Santana e região, onde o censo mais avançou até o momento na Bahia.
Entre mais de 750 mil propriedades rurais a serem visitadas no estado, 61.150 estão na área de Feira de Santana são 27 cidades ao todo. Até domingo pela manhã, haviam sido recenseados 18.208 estabelecimentos agropecuários, quase 30% do total.
Além de Feira, estão na lista Conceição do Jacuípe, São Gonçalo dos Campos, Anguera, Ipirá, Rafael Jambeiro, Serra Preta, Baixa Grande, Mairi, Pintadas, Várzea da Roça, Candeal, Capela do Alto Alegre, Gavião, Ichu, Nova Fátima, Pé de Serra, Riachão do Jacuípe, Tanquinho, Santo Estevão, Antonio Cardoso, Ipecaetá, Santanópolis, Irará, Santa Bárbara, Conceição de Maria e Água Fria.
Ao fazer uma breve comparação entre o último censo, em 2006, com o deste ano, o coordenador do IBGE em Feira de Santana, Thiago Pimentel, comentou que no levantamento anterior, além da mandioca, havia destaques também na produção de milho, feijão, laranja, banana e coco. Na pecuária, aparecia também os ovinos.
Pimentel comentou que os municípios da área de Feira de Santana têm uma produção agropecuária bastante diversificada e centrada em produtos essenciais para a alimentação e o consumo cotidiano, como a mandioca, o feijão e as carnes de aves e bovina.
“Além de ser bastante relevante no abastecimento de Salvador, da qual está muito próxima, a produção da área de Feira também tem grande importância para outros municípios do interior e até de outros estados, uma vez que a região tem a facilidade de estar num grande entroncamento de redes de transporte”, analisou Thiago Pimentel.
Em todo o estado, 2,4 mil recenseadores estão atuando no Censo Agro - no Brasil, são 19 mil. Todos os recenseadores utilizam um Dispositivo Móvel de Coleta (DMC), que é um computador de mão habilitado a armazenar e transmitir os dados diretamente para o Banco de Dados do IBGE.