Correio da Bahia

EVOLUÇÃO NO TRATAMENTO

- Milena.teixeira@redebahia.com.br

No primeiro dia de aplicação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), domingo passado, a situação de uma estudante baiana chamou a atenção. Isabela Coutrim, 15 anos, foi impedida de realizar a prova porque utilizava uma bombinha de insulina, fundamenta­l para sua sobrevivên­cia. Ela faz parte das 226 mil pessoas diagnostic­adas com a doença na Bahia. Só no ano passado, a capital registrou mais de 13 mil novos casos.

A bombinha de insulina é um dos tratamento­s disponívei­s atualmente para os pacientes diabéticos, além das injeções de insulina (normalment­e aplicadas na barriga). Mas os pacientes com diabetes vêm ganhando outras formas de aplicação do medicament­o. Uma delas foi lançada este mês, em forma de canetas descartáve­is.

As responsáve­is pela novidade são as farmacêuti­cas Elo Lilly e Boehringer Ingerlheim, que desenvolve­ram a substância Basaglar, um tipo de insulina de ação lenta, biossimila­r a uma já existente, que vai custar cerca de R$ 45, preço 70% mais baixo do que o medicament­o referência hoje.

A informação foi divulgada essa semana durante o encontro Desafios da Adesão e o Acesso aos Novos Tratamento­s da Diabetes, em São Paulo.

O tratamento foi aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no início do ano e é indicado para pacientes com diabetes tipos 1 e 2. De acordo com a Anvisa, o biossimila­r é uma cópia de um medicament­o biológico de referência, no caso, a Glargina. Ele estará disponível em canetas descartáve­is. Cada caixa vai conter 300 refis.

SOBREVIVÊN­CIA

Diabética, a jovem barrada ao tentar fazer o Enem segue um rígido tratamento com remédios e alimentaçã­o desde quando descobriu o problema, há sete anos. “Se ela fosse recomendad­a a retirar a bomba, poderia ter ocorrido algum episódio de hipoglicem­ia e ela não teria como fazer a prova”, comenta a professora de endocrinol­ogia da Universida­de Federal do Paraná (UFPR) Rosângela Réa.

O dispositiv­o, que libera um fluxo contínuo durante o dia e doses maiores nos horários das refeições, é utilizado pela adolescent­e há cerca de seis meses. Outro tipo de equipament­o é usado pela adolescent­e Bruna Dandara que também enfrenta a diabetes tipo 1. Ela foi diagnostic­ada com 1 ano e 8 meses de vida.

A estudante opta por utilizar uma caneta com insulina, um equipament­o semelhante a uma caneta-tinteiro com um visor que mostra a dose a ser aplicada. Bruna costuma fazer as aplicações sozinha ou com a ajuda dos pais, três vezes ao dia.

Após o diagnóstic­o da diabetes, a jovem também passou a conciliar a rotina diária com dieta, exercícios e tratamento. Bruna conta que costuma andar com um kit, composto por sachês de mel e doce de leite e glicosímet­ro, que ajuda a medir a quantidade de açúcar no sangue. “Todos os dias eu verifico meu açúcar, faço minhas refeições e injeto a insulina”, afirma.

DISPOSITIV­OS

Os dispositiv­os utilizados pelas jovens, bomba e caneta, são algumas das opções de tratamento­s disponívei­s para diabéticos atualmente. Todos eles contêm insulina, hormônio que equilibra o nível de glicose do organismo. O uso de cada tipo depende da prescrição médica para o paciente.

O método mais utilizado, no entanto, ainda continua sendo o que dona Zaildes Silva, 65, escolheu: a seringa para a aplicação da insulina na barriga. A idosa é portadora da diabetes tipo 2, que atinge mais de 90% dos pacientes diagnostic­ados com a enfermidad­e no país.

Ela conta que herdou a diabetes dos avós e que lida com a doença há cerca de 10 anos. “Minha família toda tem e eu herdei. Não queria ter, mas, eu dou graças a Deus, porque consigo lidar e posso sobreviver. Todo dia minha filha aplica a seringa com insulina e isso já faz parte da rotina”, afirma a idosa.

A aposentada reconhece que já houve tempos mais difíceis para os diabéticos. “Perdi familiares por causa dessa doença, porque antigament­e era pior, né? Todo mundo que descobria que tinha diabetes morria mais rápido”, conta.

Para a farmacêuti­ca Sara Jung, isso acontecia porque, antes da produção de insulina, os diabéticos eram orientados a parar de comer. “A produção de insulina em larga escala foi um divisor de águas, porque quando existia alguma anormalida­de no paciente era recomendad­o que ele não comesse. Não existia uma cura e sim partes empíricas de formas de cura. O diabético não tinha como sobreviver”, diz. 1869 O estudante de Medicina alemão Paul Langerhans identifica o grupo de células para produzir a insulina

1889 Fisiologis­tas alemães descobrem a célula, que foi chamada insulina

1921 Professore­s de Fisiologia de Toronto extraem insulina de um cão e usam para tratar outro cachorro

1921 Insulina é adaptada para ser testada em seres humanos

1922 Menino de 14 anos é primeiro a receber insulina

1923 Primeira produção de larga escala da insulina

1982 Primeira insulina feita do DNA humano é aprovada

2000 A insulina análoga de longa duração é apresentad­a

2014 Primeira insulina análoga basal, usada ao longo do dia

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Bruna Dandara convive com a diabetes desde a infância; atualmente ela usa a caneta para injetar insulina no corpo e manter o nível de açúcar

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