Correio da Bahia

ENTREVISTA MARCELO GALVÃO, DIRETOR DO PRIMEIRO LONGA BRASILEIRO DA NETFLIX

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Diretor de O Matador, primeiro filme do Brasil na Netflix, o cineasta carioca Marcelo Galvão, 43, conversou com o CORREIO sobre o filme de faroeste que acaba de chegar no serviço de streaming. “Não vim trazer um faroeste americano para dentro do Brasil, vim dar uma reforçada no faroeste que a gente teve aqui”, garante. Confira. A gente tem um contexto na história do Brasil super pertinente que é o cangaço: o nosso faroeste. Era isso que eu queria retratar. Não vim trazer um faroeste americano para dentro do Brasil, vim dar uma reforçada no faroeste que a gente teve aqui, nessa terra sem lei onde você tinha bandidos que matavam por uma pedra preciosa. Tem personagen­s reais dentro do filme, Corisco, Dadá... Ele é contextual­izado com o momento histórico brasileiro, mas com uma roupagem mais parecida com os ‘westerns’ americanos, italianos: planos grandiosos com lentes angulares, drones, uma coisa muito diferente do que a gente está acostumado a ver na produção brasileira que vem mais da novela, com planos mais fechados. Quis fazer uma coisa mais grandiosa. Queria fazer um filme de ação e não queria fazer coisas que já tinham sido feitas: filme sobre favela, sobre polícia... Queria fazer uma coisa inédita e aí me apeguei a esse contexto histórico que é o cangaço. O Nordeste é o palco onde tudo isso aconteceu. Quis uma coisa mais original, mais brasileira, então viajei um ano antes, visitei todo o Nordeste, visitei o interior de Pernambuco, da Paraíba, de Alagoas, da Bahia, fui pra o Ceará e aí entendi qual era esse contexto geográfico em que nossa história iria se passar. Adaptei muita coisa do roteiro que já tinha escrito para aquilo que aprendi aí. Foi assim que eu uni o Nordeste à minha história. A violência é o mais óbvio de tudo, o filme chama O Matador e não tem como não ser violento. Mas o filme vai muito além disso: é sobre uma questão social que é discutida ali, uma relação de poder onde uma pedra vale mais do que uma vida. Vejo o filme muito mais como uma questão social e, principalm­ente, de uma busca de identidade - de um filho querendo saber quem é o pai para poder entender quem ele é - do que essa questão violenta, que é óbvia. Essa é a coisa mais superficia­l que existe e a pessoa que se ateve a isso não conseguiu se aprofundar nas coisas mais importante­s que têm dentro do filme.

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