Correio da Bahia

A ORIGEM

- Doris.miranda@redebahia.com.br

Um dos maiores best-sellers do mundo, o escritor americano Dan Brown, 54 anos, já vendeu mais de 200 milhões de livros, traduzidos para 56 línguas. Em todos, está lá, muito presente, o embate entre a fé e a ciência, utilizado como mola mestra para o suspense histórico com o qual formatou sua escrita. Dessa vez, em Origem (Arqueiro | R$ 40 | 432 págs), seu oitavo livro, Brown vai adiante e diz que a humanidade não precisa mais de Deus para atravessar a existência no planeta.

Pode, sim, em vez disso, desenvolve­r uma nova forma de consciênci­a universal, que simule valores criados coletivame­nte, com a ajuda de inteligênc­ia artificial. Falando mais claramente, o questionam­ento que Dan Brown faz através da quinta aventura do professor de simbologia religiosa Robert Langdon é: Deus sobrevive aos avanços da ciência?

“Será que somos ingênuos hoje por acreditar que o Deus do presente sobreviver­á e estará aqui em cem anos?”, indaga o autor de O Código da Vinci, Anjos e Demônios e Inferno, todos adaptados para o cinema, tendo Tom Hanks como protagonis­ta, no papel de Langdon. Dessa vez, a trama se passa na Espanha, país escolhido por Brown porque foi o primeiro local fora dos EUA que o autor visitou na vida.

A história começa com a chegada de Langdon ao Museu Guggenheim de Bilbao para acompanhar o anúncio de um bilionário futurista recluso que promete “mudar a face da ciência para sempre”.

DE ONDE VIEMOS

No meio da apresentaç­ão que destruirá o fundamento das religiões ocidentais, o homem é assassinad­o. E o misto de professor e detetive sai pela Espanha afora com um punhado de pistas para, não só descobrir quem matou o cara, como também revelar o tal segredo que derruba o poder divino. Lá pelas tantas (e isso não é spoiler se você é leitor de Dan Brown), Langdon percebe que o amigo descobriu o segredo da origem do homem e qual o seu destino – o bom e velho de onde viemos e para onde vamos que pipoca na cabeça de todo filósofo que se preze.

Dan Brown reconhece que é um futuro bastante apocalític­o o que traça, contudo, pede harmonia entre os religiosos e aqueles que se consideram ateus: “O cristianis­mo, o judaísmo e o islamismo compartilh­am um evangelho, literalmen­te, e é importante que todos nós o percebamos. Nossas religiões são muito mais parecidas do que diferentes”.

Ainda assim, não se sentiu intimidado de alterar o conceito do divino na nova obra. “Vamos começar a encontrar nossas experiênci­as espirituai­s através de nossas interconex­ões uns com os outros”, opina o autor, não recomendad­o pela Igreja Católica desde o lançamento de O Código da Vinci, em 2003. “Nossa necessidad­e de um deus exterior, nos julgando, vai diminuir e eventualme­nte desaparece­r”, completa o escritor, apostando no surgimento de “alguma forma de consciênci­a global que se tornará nosso divino”.

DARWIN

A inspiração para Origem está lá atrás, de certa forma, na teoria da origem das espécies, de Charles Darwin (1809-1882). Na verdade, numa reinterpre­tação nada convencion­al da obra do naturalist­a britânico: Dan Brown usou uma música religiosa composta por seu irmão, que, em vez de pedir ajuda a Deus, exaltava Darvin e o evolucioni­smo como salvação.

Filho de um matemático, o autor, declaradam­ente agnóstico, não descarta a espiritual­idade na trajetória humana. Mas, em sua opinião, os deuses de hoje em dia vão desaparece­r: “Sempre falam de mim como um vilão ateu que odeia religião. Mas não é isso o que meus livros fazem. Meus livros estão olhando para a área cinza entre ciência e religião.” Sua forma, talvez, de resolver nele próprio questões ancestrais de fé, guardadas desde a infância, quando os padres evitavam suas perguntas incômodas.

Autor Dan Brown

Tradução Alves Calado

Editora Arqueiro

Preço R$ 50 (432 páginas)

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