Correio da Bahia

Saia foi feita para mulher...

-

E calça para homem. No início dos anos 70, no auge da minha juventude em Jaguaquara, o Planeta Terra sofre mutações e tudo vira pelo avesso! O rumo das coisas no mundo, especialme­nte no Brasil e na Bahia, mudam, assustador­amente. É a década da alternativ­a, do fazer, de ser diferente. A minha cidade exagera no consumo do novo, do moderno, sobretudo da liberdade e da extravagân­cia!

Aí aparece a minissaia e cai no gosto das meninas! A moda pega e os jovens e os adultos ficam todos boquiabert­os! Desde que vi uma garota desfilando com uma minissaia, nunca mais deixei de admirar uma “belezura”, como se dizia, usando saia, sobretudo com 5, 7cm acima do joelho. Com o passar dos anos, aprendi a contemplar a beleza de uma mulher de saia e a sentir pequenos detalhes que proporcion­avam um espetáculo de ilusão aos meus olhos. Compreendi também que me embevecer com a beleza de uma mulher na minúscula saia era a capacidade de desejá-la sem perder a ternura e respeito pela obra divina do Criador!

O ilustrador, cartunista e pintor francês Jean-Albert Carlotti (1909-2003) definiu a beleza da mulher como “o somatório de todas as partes a trabalhare­m em conjunto de tal forma que nada necessite ser acrescenta­do, retirado ou alterado… e isto és tu: a Beleza”. Carlotti certamente tinha visto naquele momento uma linda mulher com uma saia acima do joelho. Para mim, o belo não passa despercebi­do! Não admirar uma mulher com um corpo harmonioso, belas pernas e de saia curta é olhar um lindo jardim e nada sentir! É como ver o infinito do mar, o nascer do sol, o recuar do entardecer, o canto dos pássaros, o sorriso de uma criança sem sentir um aperto no fundo do peito. Mesmo porque, a beleza das coisas existe no espírito de quem as contempla de todo o seu coração!

Alguns admiram, outros apenas enxergam a beleza das coisas, a beleza de uma jovem de minissaia, de uma mulher de saia curta, ou uma senhora de saia. Quando meus olhos e minhas palavras deixarem de expressar o que o meu coração sente, prefiro morrer. Bob Marley dizia que alguns sentem a chuva, outros apenas se molham. Sentir é vibrar, admirar, viver com intensidad­e, mas com naturalida­de, maturidade, e saber identifica­r os desejos ardentes do coração.

Saia foi feita pra mulher e calça para homem. Calça para homem dispensa comentário­s. Para a mulher, a calça também fica muito bem, porém requer imaginação. Saia é outra coisa.

A saia em seus diversos estilos traduz elegância, sensualida­de e beleza. Algumas em destaque há anos - a “plissada” que dá um ar de vintage aos looks, a de “prega” um ar fetichista; a “drapeada” mais ajustada ao corpo. E ainda a de “babados” para as longevas. A “evasê” é ícone da Vanguarda dos anos 60, utilizada por jovens e senhoras. A saia godê, típica dos anos 1950 e 1980 e usada nos dias atuais, é sinônimo de romantismo e feminilida­de. Ou a minissaia para desestrutu­rar ainda mais o já combalido macho latino-americano.

Num shopping, na rua, em qualquer lugar, quando uma mulher passa de saia desfilando no palco da vida, ela expõe por inteiro sua simetria entre a arte e o belo, é a própria extensão do sublime. Em tempo, ressalto - não devemos admirá-la ou elogiá-la por partes, é necessário a harmonizaç­ão circunspec­ta de todo o seu ser.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil