Lindas, pretas e cabeludas
EMPODERAMENTO Com apenas nove meses de vida, a pequena Naila Xavier exibia, sorridente, seu cabelo crespo com uma fita azul. Levada pela mãe, a cabeleireira Gisele Xavier, 32, à terceira edição da Marcha do Empoderamento Crespo, realizada ontem, Naila já tem, em casa, lições para lutar contra o racismo. “Quero que ela aprenda desde cedo a se valorizar, a se achar linda”, diz Gisele. Assim como eles, cerca de dez mil pessoas, segundo a organização, participaram da marcha, que começou no Campo Grande e seguiu pela Avenida Sete de Setembro até a Praça Castro Alves. Ao longo do trajeto, cabelos crespos, alisados e coloridos se misturavam a cartazes e discursos com temática de combate ao racismo e à desigualdade. Segundo a antropóloga Naira Gomes, uma das organizadoras do evento, o cabelo é apenas uma metáfora para falar de todo o corpo negro. Neste sentido, ela ressalta, a estética é também política. “A marcha vem para afirmar e legitimar o corpo negro, que sempre foi colocado em dúvida quanto à beleza, capacidade intelectual, afetividade. A estética é política, não diferencia. Ela não é só a forma, ela é o significado”, defende. A estudante Marina Santana, 23, por exemplo, alisava o cabelo desde pequena, seguindo orientação da mãe. “Era o que todo mundo fazia. Mas eu percebi que meu cabelo é lindo do jeito que é e decidir parar de alisar. Hoje, tenho orgulho, resolvi me autoafirmar. Mais do que valorizar minha beleza, é um posicionamento político”, comenta, mostrando as madeixas azuis que se misturam às negras. “Resolvi criar meu próprio estilo”, diz. Nadja Santos, uma das fundadoras da marcha, ressaltou a necessidade da contínua luta contra o racismo. “Vamos nos manter firmes e fortes, sem esquecer nossos deveres, mas principalmente os nossos direitos. Porque nós somos, existimos e todos que não querem nos engolir, vão ter que se calar, porque somos maravilhosos”.