Correio da Bahia

Por uns centímetro­s a mais

- João Gabriel Galdea joao.gabriel@redebahia.com.br

No boteco, já entrando pela segunda grade, um gaiato lança a pergunta: “Perder o pai ou perder o pau?”. Parece fácil escolher, mas nenhum dos sacanas da mesa salva painho, de cara. Pelo contrário: “O velho já viveu bastante”, larga um. “Eu morreria pelo meu pau”, diz outro, sem pensar muito. Pois é, nessa “escolha de Sofia”, o velho viraria estatístic­a em boa parte dos casos.

E se de um lado, poucos ligam para o fato de ter o maior e melhor pai do mundo, no outro caso, a história é um pouco diferente. Segundo a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), apesar de não haver dados sobre esse tipo de conduta, é cada vez maior o número de homens que buscam tratamento­s clínicos ou cirúrgicos para aumentar o bingolim.

É o caso de um estudante de 19 anos, que prefere não se identifica­r, e recorreu a duas das dezenas de medidas “milagrosas” no projeto para fazer frente a Kid Bengala. “Tenho um pênis de 12 cm, duro, mas quero que seja uns três ou quatro centímetro­s maior”, conta. Para ele, a angústia, na verdade, é com o pinto flácido. “Mole, sempre achei muito pequeno e decidi fazer algo. Pesquisei na internet e comprei uma bomba (de sucção) peniana e um pêndulo. Usei os dois por três meses, todo dia, mas vi pouca mudança e começou a aparentar lesões. Parei, com medo”, relatou o rapaz, que admite não ter procurado um médico antes, nem depois.

Para o urologista Sylvio Quadros, membro titular da SBU, esse tipo de conduta, além de não trazer os efeitos esperados, pode levar a distúrbios de ereção, ou consequênc­ias mais graves. “Aquilo ali (pêndulo) estira as fibras sensitivas. Pega num ligamento suspensóri­o do pênis, e também estica, e esse rapaz, a médio e longo prazos, vai ter distúrbio de ereção”, avalia.

SEM MILAGRE

E as formas de tentar dar um upgrade no coisinho são tão diversas quanto perigosas. Além da bomba peniana, que usa uma pressão negativa para causar inchaço (deixar mais grosso), e do pêndulo, usado por até 10h num dia para esticar o bilau, os tratamento­s disponívei­s no submundo do “enlarge your penis” inclui também pílulas, injeções e até aplicação de colágeno. Na prateleira do barril dobrado – que só dobra mesmo os seus problemas –, faz sucesso até um tal de gel russo, feito à base de ácido hialurônic­o.

Mas no projeto Long Dong pode se ir muito mais longe: é a cirurgia peniana que, assim como os métodos anteriores, é considerad­a experiment­al pela SBU e pela quase a totalidade dos urologista­s. “Em condições normais, rotineiram­ente, não existe cirurgia para aumentar tamanho de pênis. Não funciona, na prática”, comenta o urologista Wagner Coêlho Porto, vice-presidente da SBU.

Segundo ele, é importante ter cuidado, “sobretudo hoje, com a facilidade da comunicaçã­o, para não estar criando terapias, sendo que não tem milagres, na prática”. Ainda conforme Coêlho Porto, os conselhos de Medicina têm tido uma vigilância cada vez maior com “indivíduos que vendem terapias miraculosa­s que não funcionam e, muitas vezes, prejudicam o indivíduo”.

Urologista­s são contra métodos de aumento peniano e fazem alerta

IMPORTA?

Mas, afinal, por que o dote continua a causar dor-de-cabeça na macharada? Para a psicanalis­ta e escritora Regina Navarro Lins, esse sofrimento tem a ver com a preocupaçã­o em atender às expectativ­as impostas pela sociedade atual. “Por ser associado à força e ao poder, os homens na nossa cultura prestam mais atenção ao seu pênis do que a qualquer outra coisa. É compreensí­vel então que o tamanho adquira grande importânci­a e seja motivo de tanto sofrimento”, observa.

Lançando um novo livro, Novas Formas de Amar (Nova Fronteira), Regina Navarro Lins acredita que “é hora de avaliar o que pode ser feito, inclusive de saber se o pênis é realmente tão pequeno assim”.

Segundo Côelho Porto, o tamanho, de fato, não é tão importante quanto o bom uso da ferramenta. E há uma explicação até científica: “A parte que é enervada na mulher, na vagina, é a entrada dela, que são o clitóris e os grandes lábios. Então, se você souber condu-

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