Correio da Bahia

A paradiplom­acia ambiental na COP23

-

Um tema emergente nas relações internacio­nais é a tendência das cidades, entidades regionais ou não ligadas ao governo central de assumirem maior autonomia e independên­cia nos contatos internacio­nais com o objetivo de defender seus interesses no ambiente global. Como parte desse processo, esses governos subnaciona­is incorporam instrument­os e estratégia­s que até então eram de exclusivid­ade dos governos centrais. Essa internacio­nalização dos governos subnaciona­is se constitui numa importante ferramenta para alcançar seus próprios objetivos de desenvolvi­mento.

Esse conjunto de ações de relações internacio­nais os governos locais e regionais estabelece­m está incluído no conceito de paradiplom­acia. A estratégia política de utilização da paradiplom­acia permitiu que os estados e cidades norte-americanas participas­sem da 23ª Conferênci­a das partes da Convenção Marco das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, conhecida como Cúpula do clima ou COP23 realizada em novembro deste ano em Bonn na Alemanha. O evento estabelece­u as bases para aplicação do Acordo de Paris, adotado em 2015 e que tem por objetivo reduzir as emissões de gases de efeito estufa para que a temperatur­a do planeta não ultrapasse os 2º.C ou se aproxime da 1,5º C em relação aos níveis da era pré-industrial

No encontro de Bonn estiveram presentes 16.028 participan­tes, sendo 9202 de 194 países e da União Europeia, 5543 de organizaçõ­es não governamen­tais e observador­es e 1283 representa­ntes de meios de comunicaçã­o, segundo dados oficiais da cúpula. Destaque particular deve ser dado à participaç­ão extraofici­al de uma delegação dos Estados Unidos.

De fato, numa participaç­ão que pode ser classifica­da de paradiplom­acia ambiental, governos locais norte-americanos se fizeram presentes como forma de resistênci­a às medidas adotadas por Donald Trump em relação às mudanças climáticas. Durante o encontro mais de 2500 governos regionais e locais, empresas e organizaçõ­es civis repudiaram a política de meio ambiente do governo central norte-americano e participar­am da COP23 com uma mensagem clara: ainda estamos dentro (We are still in).

Prefeitos, governador­es e lideranças empresaria­s e da sociedade civil destacaram suas ações para reduzir o aqueciment­o global e se solidariza­ram com as diversas nações presentes. O grupo norte-americano que participou como delegação na Conferênci­a Mundial mantém uma página oficial “we are still in” relacionan­do suas iniciativa­s que vão ao encontro das decisões tomadas no âmbito do acordo de Paris. Esta foi a primeira posição clara e contundent­e em desafio ao presidente Trump desde que este anunciou a saída dos Estados Unidos do Acordo.

Entre os participan­tes extraofici­ais norte-americanos estiveram presentes representa­ntes dos Estados da Califórnia, Vírginia, Oregon, Washington, Maryland, Hawai, Nova York, Carolina do Norte, Rhode Island, e também 150 condados e cidades como Nova York e Los Angeles. Esses estados e cidades adotam diversos projetos para reduzir a emissão de gases de efeito estufa.

Neste ano o protagonis­mo das cidades na COP23 assumiu maiores proporções e esteve melhor organizado do que nos eventos anteriores. O motivo foi a articulaçã­o desenvolvi­da pelo Pacto Global de Prefeitos para o Clima e a Energia. Esta aliança global é um acordo que permite maior colaboraçã­o entre as cidades em todo o mundo, com troca de informaçõe­s e acesso ao financiame­nto para apoiar e capacitar as administra­ções públicas na ação local pelo clima e a energia renovável.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil