Menos treta e mais improviso
Ele hoje é colorido. Na cabeça, no respeito, na mudança. Na real, a regra é a seguinte: a cada um milhão de inscritos, nova cor de cabelo. É a regra que o youtuber carioca Felipe Neto, 29, segue desde o final de 2016, quando repaginou o seu canal do YouTube. De lá para cá, já conquistou 10 milhões de inscritos a mais na plataforma.
Hoje, com mais de 16 milhões, o youtuber que mais tem visualizações mensais (em torno de 200 milhões) no país chega a Salvador com seu novo espetáculo, intitulado Megafest. A produção, que está em turnê pelo Brasil, traz Felipe, apresentando quadros do próprio canal, como se estivesse em gravações ao vivo, porém com um detalhe a mais: a participação da plateia.
A apresentação será realizada amanhã, às 19h, na Concha Acústica do TCA. “O mais legal da Megafest é que nem mesmo eu sei o que esperar; cada apresentação é totalmente diferente da outra”, conta Neto.
Ele não esconde a empolgação de encontrar com os seguidores soteropolitanos e afirma que existe um diferencial no público da Bahia. “O calor é um grande diferencial dos baianos. E não me refiro à temperatura não, mas sim ao amor e dedicação dos fãs. Salvador tem um quê diferente, um grito a mais, um abraço mais forte. Não sei explicar direito, acho que deve ter a ver com os temperos da culinária da Bahia, que eu tanto amo!”, exclamou o astro, entre risos e sorrisos para o CORREIO.
Um dos pioneiros de canais nacionais de YouTube, o rapaz, que fez cursos de teatro, começou a postar vídeos em 2010, com críticas a artistas e à própria geração, geralmente com tom cômico e agressivo. Rapidamente, o canal começou a ganhar notoriedade, sendo o primeiro a conquistar 1 milhão de assinantes no Brasil, ainda que provocassem grande repercussão e opiniões divergentes.
Aos poucos, a atualização do produto, na época, chamado de Não Faz Sentido, foi diminuindo. Felipe, então, criou o canal Parafernalha, que unia esquetes críticos. Depois, foi parar na televisão e nos palcos. Em 2015, anunciou o retorno do projeto inicial, mas a volta foi provisória: ele estava buscando uma forma de mostrar a própria identidade.
“O Não Faz Sentido, realmente, deixou de fazer sentido para mim. Acertei e errei muito com ele, mas dei meu nome e meu rosto para um personagem e as pessoas, até por não terem outros meios de me conhecer, acreditavam que aquele era eu. Ou seja, um reclamão que levava tudo ao extremo e, por vezes, com preconceitos que não eram meus e outros que tirei de mim. Definitivamente, não sou assim e, pelos números, acredito que as pessoas estão gostando de me conhecer de verdade”, pondera Felipe Neto.
MAIS MADURO
Atualmente, os vídeos são mais longos e diários, sem medo de “mostrar a própria cara”. Com quadros cômicos, ele acabou por ampliar o seu público, atraindo também uma grande gama infantil. Sem os palavrões, sem óculos escuros e sem a revolta antiga, muitos podem pensar que a veia crítica de Neto esvaiu. Ledo engano.
No meio dos vídeos habituais, o youtuber trata de temáticas mais sérias, seja sobre questões políticas ou sobre a quebra de padrões sociais. Vídeos específicos sobre esses assuntos são, por vezes, também postados separadamente.
“Percebo a importância de abordar certos assuntos, principalmente, para que o público jovem possa compreender determinadas coisas, não as vendo como ‘chatas’, mas sim como fundamentais para que possam ter um senso crítico. Por isso, inclusive, incentivo sempre que façam mais pesquisas. Um dos vídeos que mais tenho orgulho é o da Baleia Azul”, exclama.
Quando questionado sobre novos projetos, Felipe apenas sinalizou a palavra “cinema!”. Provoca curiosidade, mas uma coisa tem ficado clara: com a tentativa de produzir cada vez menos preconceitos, a ideia do cabelo veio, principalmente, como mote para quebrar críticas que fez no passado, como é o caso da que foi feita para a banda Restart, num vídeo do Não Faz Sentido.
Felipe se tornou muita coisa que criticou, mas, pelo visto, essa é a intenção. A frase de Sócrates (469 a.C.-399 a.C) “mudei para continuar o mesmo”, parece falar muito de Neto, que não tem receio da arte do improviso. Contanto que, na arte da evolução, faça sim, sentido.