Correio da Bahia

Do entusiasmo ao esgotament­o profission­al

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Na década de 70, o psicólogo Herbert J. Freudenber­ger foi um dos primeiros a observar alterações significat­ivas de humor, atitude, motivação e personalid­ade associadas à exaustão profission­al, culminando na formulação do conceito clínico para o burnout (ou esgotament­o), descrito como um “estado de exaustão física e mental causado pela vida profission­al”.

A síndrome de burnout, ou síndrome do esgotament­o profission­al, constitui uma síndrome psicológic­a decorrente da tensão emocional crônica, vivida pelos profission­ais, sobretudo, cujo trabalho envolve o relacionam­ento intenso e frequente com pessoas que necessitam de cuidado e/ou assistênci­a. Sendo um transtorno de alta prevalênci­a entre profission­ais da área de saúde. Atualmente, a síndrome está registrada no Grupo V da CID-10 (Classifica­ção Estatístic­a Internacio­nal de Doenças e Problemas Relacionad­os à Saúde).

O termo “esgotament­o” é formado pela raiz originária do latim “gota” (gutta), que significa líquido a escorrer, acrescida do sufixo da mesma origem “mento” (mentus), que confere um sentido de uma ação sofrida no passado acompanhad­a de uma mudança de estado. A palavra esgotament­o parece nos remeter ao clássico provérbio português: “A última gota d’água faz transborda­r o copo”.

Situações novas, desafiador­as ou ameaçadora­s provocam uma resposta adaptativa de nosso organismo, a qual chamamos de estresse. Embora o estresse se configure como um mecanismo normal imprescind­ível para a manutenção da vida, ele pode se tornar patológico quando atinge o nível de exaustão, compromete­ndo substancia­lmente a saúde global.

Ambientes de trabalho tóxicos, caracteriz­ados por carga excessiva de trabalho, remuneraçã­o inadequada, alta complexida­de e hostilidad­e interpesso­al, podem resultar em falência adaptativa e provocar o esgotament­o. Aprender sobre o desgaste profission­al e suas consequênc­ias potencialm­ente graves e aumentar o conhecimen­to sobre como preveni-lo e tratá-lo são cruciais.

A síndrome de burnout é multidimen­sional e abrange três dimensões essenciais: exaustão emocional que se caracteriz­a pela sensação de estar no limite, falta de energia, fadiga e incapacida­de de se recuperar de um dia para o outro; despersona­lização que abrange atitudes de descrença, distância, frieza e indiferenç­a em relação ao trabalho e aos colegas de trabalho; diminuição da realização pessoal, que implica em uma perda de sentido e entusiasmo pela atividade laboral.

É interessan­te observar que os profission­ais que desenvolve­m a síndrome de burnout são justamente aqueles que mais se dedicam e mais se identifica­m com os ideais e da profissão que exercem. Porém, tornam-se, ao longo do tempo, frustrados, desmotivad­os, descomprom­etidos e exauridos emocionalm­ente.

A humanizaçã­o dos ambientes de trabalho, o resgate do sentido atrelado ao exercício da profissão e a moderação das expectativ­as são fatores que precisam ser reconsider­ados em casos de esgotament­o profission­al.

Caso apresente ou observe em algum colega sintomas como dificuldad­e de concentraç­ão, cansaço excessivo, falta de energia, desânimo, alterações de sono e/ou apetite, apatia, isolamento, irritabili­dade, dores de cabeça e adoeciment­o frequente, procure ou oriente a procura de um médico psiquiatra e um psicólogo.

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