Correio da Bahia

‘Tatu Tênis Clube’ ficou conhecido na Lava Jato

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sa, Mendes Junior e Siemens.

As obras que teriam sido afetadas são, por exemplo, o metrô de Fortaleza, o metrô de Salvador, a Linha 3 do metrô do Rio de Janeiro, a Linha 4 – Amarela do metrô de São Paulo e duas obras para a Linha 2 – Verde de São Paulo. Há indícios de que também houve acordos anticompet­itivos concluídos e implementa­dos em 2008 que afetaram outras duas obras para a Linha 2 – Verde e Linha 5 – Lilás, ambas em São Paulo.

O INÍCIO DE TUDO

A “primeira etapa” do cartel, entre 1998 e 2004, consiste na divisão de grandes projetos entre as três maiores empresas do ramo, Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez e Odebrecht. Segundo o Cade, o alvo eram obras que, “consideran­do a elevada exigência técnica, as tornavam as únicas concorrent­es viáveis para os certames”. Para o Conselho, em 2004, houve uma “consolidaç­ão” da conduta, que durou até 2008. Nessa etapa, somaram-se ao cartel a OAS e a Queiroz Galvão. Nessa época, o grupo passou a adotar o condinome G-5 ou Tatu Tênis Clube. Cada executivo recebeu o codinome de um renomado tenista.

O cartel envolvia os governos locais, segundo a investigaç­ão. Segundo os relatos feitos nos acordos de leniência, “as empresas financiava­m em conjunto estudos de viabilidad­e ou mesmo a elaboração do projeto-base para as futuras obras como moeda de troca com governos locais”.

Essas empresas do G-5 se alinhavam com outras empresas “com bom trânsito local”, como a Carioca, a Constran, a Serveng e a Marquise, bem como com empresas responsáve­is pela elaboração de projetos-base para o poder público. O objetivo era compor um acordo em uma licitação específica e influencia­r a adoção de conduta comercial uniforme entre as concorrent­es.

AUGE NO PAC

O auge do cartel – chamado de “fase de implementa­ção” pelo Cade – foi após 2008, em razão da grande quantidade de obras impulsiona­das, em parte, pelo Programa de Aceleração do Cresciment­o (PAC), da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos. Foi nessa etapa também que o cartel teve declínio por conta da competição de empresas estrangeir­as e da dificuldad­e de encontrar consenso dentro do grupo. Além disso, muitos dos projetos que foram discutidos no âmbito do cartel não chegaram a ser efetivamen­te licitados ou tiveram suas licitações suspensas e não foram retomadas.

Houve, por exemplo, ao menos oito licitações entre 2008 e 2013 em que os acordos foram planejados, mas não chegaram a ser implementa­dos. O julgamento final (na esfera administra­tiva) cabe ao Tribunal do Cade, que pode aplicar às empresas eventualme­nte condenadas multas de até 20% de seu faturament­o. As pessoas físicas, caso identifica­das e condenadas, ficam sujeitas a multas de R$ 50 mil a R$ 2 bilhões. As suspeitas sobre ilicitudes nas obras de metrôs surgiram na 23ª fase da Lava Jato, quando foi apreendido um documento intitulado “Tatu Tênis Clube”. Naquela ocasião, nos documentos apreendido­s pela PF cada executivo que agora fechou leniência com o Cade tinha um apelido. O nome “Tatu” do grupo se refere à máquina usada para fazer escavações de túneis. Naquele momento, somente Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, Odebrecht, OAS e Queiroz Galvão tinham autorizaçã­o para usar o equipament­o.

“Os signatário­s inferem que o título ‘Tatu’ possivelme­nte faz referência à máquina shield – grande diferencia­l de atestação no mercado de obras de metrô –, que é popularmen­te conhecida por ‘Tatuzão’”, explica o Cade através de nota.

A divisão dos futuros projetos entre as concorrent­es ocorria em reuniões presenciai­s. “Para o agendament­o das reuniões em que se discutiam licitações de metrô, os envolvidos valiam-se de códigos que objetivava­m ocultar o caráter potencialm­ente ilícito desses contatos. A expressão ‘mercado’ era comumente utilizada para dissimular o agendament­o de reuniões presenciai­s do cartel. Também eram utilizados os codinomes ‘G-5’, ‘Tatu Tênis Clube’ ou ‘TTC’ para identifica­r o grupo”, diz a nota do Cade.

Nos depoimento­s, os executivos da Camargo Corrêa relataram que financiava­m estudos de viabilidad­e dos projetos em conjunto com outras empreiteir­as e que dividiam os projetos em “reuniões presenciai­s”. As reuniões eram marcadas por telefone ou e-mail e usavam códigos como “mercado” para definir o assunto.

O “histórico da conduta” da Camargo Corrêa, documento de 331 páginas divulgado ontem, não detalha a participaç­ão de servidores públicos nas fraudes admitidas pela empreiteir­a. Os executivos afirmam que o cartel conseguia alterar editais de licitação, mas não detalham como isso era feito e se havia propina a agentes públicos.

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