Correio da Bahia

24h Símbolo de esperança

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O Zoológico de Salvador é o segundo do Brasil a realizar a reprodução assistida de uma harpia, ou gavião-real, e o

59º no mundo. O nascimento é considerad­o um feito, porque o animal está ameaçado de extinção. Além disso, só mantê-lo em cativeiro já é uma tarefa difícil.

Esses animais são exigentes quanto ao habitat em que vivem. Estão acostumado­s com matas fechadas e virgens, com árvores de até 40 metros de altura, onde quase não há presença humana. Além disso, os zoológicos precisam lidar com os visitantes, diferentem­ente das instituiçõ­es que são focadas em preservaçã­o de espécies e reprodução assistida. É um mérito da equipe também ter feito a incubação de forma natural, ou seja, o ovo foi chocado pela mãe.

A reprodução ocorreu graças à parceria entre a equipe veterinári­a do zoo baiano com a bióloga Ana Célly Lima, que cuida do filhote uma fêmea de quatro meses desde seu terceiro dia de vida, quando foi tirado do ninho.

Hoje com 4 meses, Hope (esperança, em português) é um símbolo para a sua raça, que enfrenta um estado crítico de extinção, como explica a bióloga Ana Célly. O risco de desaparece­r se explica por muitos fatores, mas o principal deles é a perda de habitat.

“Esse, na verdade, é o principal fator que vem levando muitas espécies ao estado de extinção. O caso da harpia se torna especial porque esse animal necessita de árvores com mais de 40 metros de altura para a construção de seus ninhos. Com o desmatamen­to das árvores, essas aves ficam sem ter onde nidificar (construir ninhos). Muitas vezes, as árvores são derrubadas até com ninhos já instalados”, diz a bióloga.

As harpias possuem ainda algumas especifici­dades, como a maturidade sexual tardia, atingida apenas aos 5 anos de idade, que acabam dificultan­do a reprodução natural. “É somente nessa fase que o animal troca as plumagens e busca um par para procriar”, esclarece Ana Célly. Por isso é que são desenvolvi­dos programas de reprodução assistida em prol da preservaçã­o dessas espécies.

FAMÍLIA

A vantagem de tirar o filhote do ninho e cuidar dele separadame­nte, como foi fei- Nome científico Harpia harpyja

Caracterís­ticas Compriment­o de 1,15 metro; envergadur­a de 2,5 metros. Voa alto, adora planar e faz bruscas manobras quando está caçando

Habitat Estão acostumada­s com matas fechadas e virgens, com árvores de até 40 metros de altura. Seu habitat se estende do sul do México à Argentina

Ameaçada Tem fortes garras, e seu único predador é o homem. Está ameaçada de extinção to no Zoológico de Salvador, é poupar a energia da mãe, que, no ninho, estaria com as forças voltadas para o cuidado do filhote. Sem ele, logo ela volta a entrar no período fértil, possibilit­ando o cruzamento e novamente a incubação. Se a a harpia criasse o bebê, ela só estaria apta a colocar ovos novamente em 3 anos. O processo é, então, acelerado.

Sendo assim, a mamãe de Hope já está lidando melhor com a perda e já começou a confeccion­ar o ninho para a nova cria. O processo de incubação dura 60 dias. Dessa forma, segundo a bióloga, Hope, que já vive com os pais no zoo baiano, já poderá ganhar um irmãozinho em março do ano que vem.

Como acontece com a maioria das aves de rapina, por mais que a fêmea coloque dois ou mais ovos, apenas um filhote sobrevive. Isso acontece porque a mãe só consegue dar atenção a um único filhote. O cuidado parental se dá por dois anos, o que é muito tempo para a ave.

E, como se não bastasse, a caça do animal também é um elemento que contribui para o estado atual de extinção. Na maioria das vezes, a caça é motivada por status: assim como a onça, a harpia é um predador de topo de cadeia e seu único predador é o homem. A caça para qualquer fim é considerad­a crime ambiental e vai contra a Lei nº 9.605, que prevê multas e até mesmo a prisão do infrator.

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Zoo de Salvador
Hope tem quatro meses e foi gerada por reprodução assistida no Zoo de Salvador

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