Boeing quer controle da Embraer, mas Planalto deve vetar operação
EMPRESA ESTRATÉGICA As fabricantes de aviões Embraer e Boeing anunciaram, ontem, que estudam uma “potencial combinação”, sem deixar claro que tipo de negócio seria esse. De acordo com a nota conjunta divulgada pelas empresas, as bases de um potencial acordo ainda estão em discussão e “qualquer transação estaria sujeita à aprovação do governo brasileiro”. A notícia fez as ações da Embraer dispararem na Bolsa de Valores de São Paulo. Fecharam em alta de 22,5%. Na máxima, os papéis da empresa chegaram a valer R$ 23, o que representou uma valorização de 40%.
O valor de mercado da Embraer superou R$ 15 bilhões, ou R$ 3 bilhões a mais do que na véspera. Na máxima, o papel chegou a R$ 23, com valorização de 40%. Com a operação, a Boeing estaria tentando se fortalecer no segmento de aviação comercial. Além disso, seria uma maneira de a multinacional norte-americana tentar se proteger do acordo firmado entre a franco-alemã Airbus e a canadense Bombardier, nesse mesmo segmento, anunciado em outubro. Reportagem do jornal americano The Wall Street Journal aponta que a empresa americana teria interesse em adquirir o controle da companhia brasileira. Mas essa posição deve enfrentar resistência dentro do governo, principalmente nas áreas militares. A Aeronáutica, por exemplo, afirmou considerar a Embraer “uma empresa estratégica e fundamental para a soberania” do país. O presidente Michel Temer disse à sua equipe que a Embraer é “inegociável”. A preferência dentro do governo, nesse caso, seria pela negociação de acordos de parceria entre as duas empresas. Na área econômica do governo, porém, a venda do controle da Embraer não enfrentaria tanta resistência. Um acordo entre as duas companhias teria de passar pelo aval do governo brasileiro por conta de uma ação especial (chamada de golden share) que a União detém desde que a Embraer foi privatizada, em 1994. Essa ação dá direito de veto em decisões importantes, como a criação ou alteração de programas militares e a transferência do controle acionário.
Apesar do direito de veto, o governo não é um acionista tão relevante da Embraer: tem uma participação de apenas 5,4%, por meio do BNDESPar, o braço de participações do BNDES. A Embraer, na verdade, é uma empresa sem controlador definido. Seu maior acionista é a consultoria de investimentos americana Brandes, com 15% das ações. A maior parte dos papéis, 64,5%, está diluída no mercado.