Correio da Bahia

Família acusa Hospital de Custódia por morte de interno; direção nega

- BRUNO WENDEL

BAIXA DO FISCAL O olhar desolador parecia pesar mais do que os 50 kg distribuíd­os em 1,50m de altura. A dona de casa Eneide Aprígio de Souza, 54 anos, liberou, na manhã de ontem, no Instituto Médico Legal (IML), o corpo do sexto filho morto. Ela diz que internos atearam fogo no filho dela, Luís Henrique Souza de Jesus Filho, 24, que estava internado no Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátri­co da Bahia (HCT), na Baixa do Fiscal. “É muita dor. Colocaram fogo nele. Ele estava queimado da cintura até o peito e os braços também. É o sexto filho que tiram de mim. Os outros foram mortos pela polícia e por traficante­s”, contou Eneide, amparada pela filha, Luíza, e o marido, Luiz Henrique. A vítima sofreu queimadura­s de primeiro e segundo graus no dia 13 deste mês. Ele estava internado no Hospital Geral do Estado (HGE) na ala de queimados, mas não resistiu e morreu após uma infecção generaliza­da na véspera do Natal (24). Ainda segundo Eneide, Luís Henrique ligou dois dias antes de sofrer as queimadura­s. “Ele me disse que estava bem, que tinha saído da solitária. Ou seja, já estava na cela junto com os demais internos. Meu filho foi assassinad­o”, desabafou Eneide. Há 15 dias, a dona de casa visitou o filho e saiu de lá preocupada com a segurança dele. “Ele estava triste e estava bastante abatido e com o lado do rosto direito machucado. O osso da face quebrado”, complement­a. Ela disse que procurou a direção do HCT, que, por sua vez, informou que Luís Henrique pôs fogo no próprio corpo, já que estava em um Quarto Individual (QI), uma espécie de solitária - cela individual e isolada de qualquer contato e usada como um castigo contra detentos que violam as regras da prisão. “Se ele estivesse realmente sozinho, ele teria queimado as pernas e a cabeça. Mas não estava. Enrolaram ele num colchão”, continuou a mãe. Aos 17 anos, Luís Henrique deu início ao tratamento psiquiátri­co nos Caps (Centros de Atenção Psicossoci­al). Em 2011, ele foi preso por roubo e internado no HCT. Depois de cumprir pena, foi liberado, mas, em 2014, um juiz determinou o retorno de Luís Henrique ao HCT para continuar o tratamento. Em novembro deste ano, ele precisou voltar à unidade, porque, segundo a família, o hospital não enviou à Justiça resultados de exames do interno. Procurada, a Secretaria de Administra­ção Penitenciá­ria e Ressociali­zação (Seap) reafirmou a versão do HCT dada à família de que o detento ateou fogo ao próprio corpo. A assessoria disse ainda que não há informaçõe­s de participaç­ão de outros detentos, pois Luís Henrique estava numa cela individual e que só uma investigaç­ão da Polícia Civil poderá apontar as circunstân­cias da morte. O CORREIO não conseguiu contato com a polícia ontem.

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Luís tinha passagens desde 2011

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