Correio da Bahia

Preços nos ares

- Fernanda Lima* fernanda.lima@redebahia.com.br

Consumidor paga até 525% a mais no Aeroporto de Salvador

O contador Eduardo Cardozo, 73 anos, de Vitória da Conquista, fez as contas e decidiu: não toma mais cafezinho no Aeroporto Internacio­nal de Salvador, para onde veio passar o Natal, com a esposa Tereza, 71. Resolveu abandonar o hábito devido ao preço cobrado nas lanchonete­s do local.

“Um café aqui é um absurdo. O que tomo lá fora de R$ 3, R$ 3,50, custa R$ 7 aqui. Deixei de tomar”, desabafou, antes do retorno para casa. A indignação não é à toa: levantamen­to feito pelo CORREIO mostra que o preço de produtos alimentíci­os e artesanais chega a custar 525% a mais no terminal em relação a outros estabeleci­mentos da capital baiana.

A espera pelo embarque custa mesmo caro ao passageiro que, como Eduardo, gosta da bebida. A reportagem encontrou cinco cafeterias e similares no terminal, onde uma xícara de 50 ml de café é vendida por R$ 7. No Shopping Barra, bairro turístico da capital, o valor não ultrapassa R$ 3,80. Nas ruas da cidade, a diferença é ainda maior: o preço do gira em torno de R$ 1,50.

O cenário não é diferente na venda de outros alimentos. No aeroporto, uma coxinha (sem catupiry) sai por R$ 11,50; em lanchonete­s do centro da cidade, paga-se R$ 3,50.

LEMBRANCIN­HA SALGADA

Sair de Salvador com uma lembrancin­ha para parentes e amigos comprada no terminal custa até cinco vezes mais. Um imã de geladeira com estampas de Salvador é oferecido por R$ 25 no aeroporto, 525% mais caro que o cobrado no Mercado Modelo (R$ 4), e a clássica blusa do Olodum sai por R$ 13 no Mercado, mas é vendida por até R$ 65 no aeroporto (400% a mais).

Proprietár­ia da loja Planetinha Bahia no Aeroporto, onde é vendido o imã de geladeira, Ana Souza, 38, defende que os preços mais elevados são motivados pelos investimen­tos que fez e também pela recente perda de voos de Salvador para Recife - que diminuiu a movimentaç­ão no local.

Entre janeiro e novembro deste ano, o Aeroporto de Salvador recebeu 6,9 milhões de passageiro­s; no da capital pernambuca­na, foram 7 milhões, de acordo com a Empresa Brasileira de Infraestru­tura Aeroportuá­ria (Infraero).

O lojista tem que administra­r a diminuição no fluxo com o custo do aluguel no terminal - em média, R$ 375,68 por metro quadrado, segundo o órgão. O preço final do aluguel é definido pelos próprios lojistas, que o determinam na disputa de lances dos pregões a partir de um valor inicial apresentad­o pela Infraero na abertura dos processos licitatóri­os. Por isso, há valores que chegam a subir mais de 100% em relação ao inicial da abertura da licitação.

Nos últimos dois anos, informou a Infraero à reportagem, 31 lojas foram fechadas no terminal aéreo de Salvador. Ao todo, o aeroporto possui 8.437,68 m² de área locável, dos quais 5.623,70 estão ocupados - 65% do total.

Para o presidente em exercício da seção baiana da Associação Brasileira de Agências de Viagens da Bahia (Abav-Ba), Jorge Pinto, a inflação verificada no aeroporto de Salvador é resultado do modelo atual de competição entre lojistas no ato da licitação, já que é preciso equacionar receitas e custos. “Quando abre uma licitação para que uma loja seja aberta no aeroporto, os comerciant­es concorrem entre si. O preço pelo aluguel, que já é caro, acaba subindo, e isso tem que ser embutido em algum lugar. Os preços são caros, acaba sendo inevitável aumentar o preço dos produtos”.

PERFIL DIFERENCIA­DO

A gerente da loja O Que a Bahia Tem, Cristiana Andrade, 36, justifica os preços cobrados no aeroporto com um atendiment­o “inovador”. “O perfil do cliente aqui é outro, é diferente do da rua. A gente aposta na alegria por atender, abraça, sorri. Dizemos também que nossas camisetas são diferencia­das, que apostamos na inovação”, relata. Embora alegue exclusivid­ade, produtos similares ou iguais aos vendidos na loja são encontrado­s fora do terminal, e por pre-

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