Correio da Bahia

24h Casal de Salvador celebra 70 anos de união

- VICTOR LAHIRI

AMOR DE CARNAVAL Todo mundo já viveu um amor de Carnaval, mas poucos amores de Carnaval são tão duradouros quanto o do casal Juarez de Souza e Maria da Glória de Souza. Ao som das marchinhas, o casal se conheceu em plena folia do Centro, em 1943. Ele, mais sério, vestia roupas casuais; já ela, com longas tranças, usava uma fantasia de cigana. “Foi amor à primeira vista”, afirma Juarez. Maria concorda. No último dia 30, o casal alcançou as bodas de vinho (70 anos de casamento), rótulo adequado para um relacionam­ento que, como o vinho, só melhora com o passar do tempo. O marco foi comemorado em família, ontem. “Nós dois já temos tantas histórias juntos que já nem sei se lembro de tudo”, se diverte Maria. No entanto, ambos se lembram com clareza quando descobrira­m que o romance não seria fácil. Primeiro por conta da distância: Maria morava em Muritiba, no Recôncavo, e os primeiros anos de relacionam­ento foram por carta.

“Na época, em Muritiba não tinha entrega de cartas em casa. Eu ia até os Correios buscar as correspond­ências que ele mandava. Era até melhor, pois meu pai não concordava com o nosso namoro”, relembra ela. O problema, segundo o casal, era a ocupação de Juarez: carpinteir­o. Segundo o pai da moça, o pretendent­e não tinha condições de sustentar uma família. Depois de uma temporada no Exército e muita resiliênci­a, Juarez conquistou a bênção e o casamento foi celebrado no dia 30 de dezembro de 1947. Os primeiros anos de casamento foram em um quarto na casa dos pais de Juarez. Nos tempos difíceis, o casal aprendeu algo que na opinião de ambos é o elo que mantém a união firme depois de sete décadas. “Compreensã­o e diálogo são a base. Esses casamentos de hoje em dia já não valem nada. Rusgas acontecem, mas é preciso buscar compreende­r um ao outro para que os problemas possam ser solucionad­os a dois”, afirma Juarez. Em 70 anos, as dificuldad­es foram atravessad­as, o quartinho ficou no passado, dando lugar a uma bela casa no Dique do Tororó. Mas os dois construíra­m mais do que apenas uma casa; edificaram uma família com filhos, netos, bisnetos e até tataraneto­s que a memória já não permite contabiliz­ar. As crises do país e do mundo também balançaram, mas o matrimônio se manteve de pé, servindo de exemplo para a família e os amigos. “Essa coisa de crise financeira separando as pessoas não me convence. Acho que o sentimento prevalece. Com o tempo, a paciência falta e a relação já não é mais tão apimentada, mas o carinho continua e a gente vai aprendendo a valorizar cada vez mais as qualidades do outro”, diz Maria. Questionad­a se depois de 70 anos e tantas experiênci­as juntos ela ainda diria ‘sim’ para Juarez, Maria suspira e pensa. Os filhos ao redor do casal gargalham com a hesitação, mas ela explica. “Eu casaria de novo, pois ele tem qualidades maravilhos­as e continuo o amando como no início”. Já Juarez é mais rápido na resposta. “Com certeza! Apesar de eu ser mais tranquilo e ela mais agitada, acho que a nossa união é um sucesso, pois ela me completa”, finaliza.

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Maria da Glória e Juarez se conheceram durante o Carnaval, no Centro, e desde então nunca mais se largaram

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