Correio da Bahia

Imagem vinda de Portugal é guardada por vidro

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quinta, 11 Dia da Lavagem: 8h – Saída da 5ª Caminhada da Conceição da Praia; 9h – Show de músicas religiosas no adro da igreja; 12h Acolhida às baianas pelos membros da irmandade

sexta, 12 Novena: 19h

sábado, 13 Missa das Crianças, 17h. Novena: 19h

domingo, 14 Missas: 5h, 6h, 7h30 e 15h; Missa com dom Murilo Krieger, às 10h; 16h Procissão saindo dos Mares lá, adeptos do candomblé e a comunidade local se uniram e começaram a fazer uma lavagem grande. “Isso foi crescendo cada vez mais e a ligação com o candomblé foi crescendo, simbolizan­do nosso pai Oxalá”, explica Dayse que integra a ala das baianas que abre o cortejo da Lavagem carregando uma moringa com a água de Oxalá.

Um ponto comum é de que a igreja precisava de lavagem. “Essa região não era calçada e o povo que participav­a da novena sujava de areia. Por isso, começaram a lavar para a festa, mas acabaram transforma­ndo em farra”, diz padre Edson.

Essa lavagem seria liderada, segundo o historiado­r Jaime Nascimento, coordenado­r de cultura do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB), pelas mulheres dos homens que faziam parte da devoção do Bonfim. Elas levavam suas damas de companhia – mulheres escravizad­as – para limpar.

De acordo com um dossiê do Iphan sobre a festa, em 1804, a devoção do Bonfim teria permitido que devotas de São Gonçalo – tido, na época, como o santo casamentei­ro e da fertilidad­e – levassem a imagem do santo, ornamentas­sem e lavassem a Igreja do Bonfim.

REPRESSÃO

O fato é que a Igreja Católica não aprovava a Lavagem. Na época do episódio de São Gonçalo, quando as mulheres dançavam e colocavam o santo no meio da roda, o ato passou a ser visto como imoral. Logo, isso chegou à Festa do Bonfim com brincadeir­as. Foi aí que, segundo o jornalista e pesquisado­r Nelson Cadena, a igreja passou a chamar o ato de paganismo. “Veio o cortejo, que eram só as carroças trazendo água e lenha para a igreja, porque não existia luz elétrica e eles tinham que fazer a fogueira”, diz. Com a criação da Estrada dos Dendezeiro­s, as pessoas começaram a ir a pé.

De acordo com Cadena, a Lavagem ganhou força mesmo quando a estrutura de transporte foi implantada. O que não se sabe – e ninguém tem uma resposta – é quando ou como a saída do cortejo passou a ser na Igreja da Conceição da Praia.

O único que identifico­u uma possibilid­ade foi justamente Cadena. Segundo ele, há quem diga que quem começou a saída na Conceição da Praia, dando início aos 8 quilômetro­s de peregrinaç­ão, foram os marinheiro­s, cujo Comando do 2º Distrito Naval fica logo em frente à Conceição da Praia. A Marinha, no entanto, informou que desconhece essa informação.

Durante a maior parte desses quase três séculos, a Igreja Católica tentou reprimir a lavagem. Inclusive, a lavagem deixou de ser no interior do templo, porque a catedral foi fechada. De acordo com o estudo do Iphan, dom Antônio Luís Santos conseguiu proibir o ato, inclusive com apoio da polícia, em 1889.

Hoje, a situação é diferente. Reitor da basílica, padre Edson admite que a igreja não se envolveu na Lavagem durante a maior parte do tempo. Desde 2009, quando assumiu o cargo, as coisas têm mudado. Eles criaram a Caminhada de Corpo e Alma, que convoca os fiéis – que, antes, não iam ao evento de quinta-feira – a participar­em da Lavagem. Este ano, ele espera que cerca de 100 mil pessoas participem da caminhada. Em toda a Lavagem, segundo ele, são dois milhões de pessoas.

No ano passado, foi a mudança mais radical: pela primeira vez, o Bonfim viu a Lavagem. A imagem – uma pequena, não a original, de Setúbal – foi carregada pelos fiéis durante os oito quilômetro­s pela primeira vez na história. Este ano, o andor será decorado com as fitinhas amarradas com 3 nós e 3 pedidos. A origem da história dos três pedidos é outro mistério. Segundo Cadena, a atual fitinha surgiu na década de 1970 . “Mas isso foi invenção dos órgãos de turismo da Bahia”, diz, categórico. Nenhum dos outros representa­ntes ouvidos pelo CORREIO soube dizer como essa parte da tradição começou. A imagem verdadeira do Senhor do Bonfim – a de Setúbal – saiu poucas vezes da basílica. As ocasiões incluíam grandes eventos que afetavam a cidade, como em 1842, quando uma intensa seca castigava a Bahia; ou em 1855, quando muitos soteropoli­tanos morreram devido a uma epidemia de cólera; ou, ainda, em 1942, quando pediam a paz e o fim da Segunda Guerra Mundial (que só acabaria três anos mais tarde). Um dos momentos de destaque foi justamente em 1923, no centenário da independên­cia da Bahia. A Imagem foi levada na galeota Bom Jesus dos Navegantes e chegou a circular até pela Igreja da Vitória. De acordo com o historiado­r Jaime Nascimento, do IGHB, isso aconteceu porque as pessoas criaram uma identifica­ção tão forte com o Senhor do Bonfim que acreditava­m que ele tinha tomado seu partido na luta pela independên­cia. “O povo tomou a imagem e rodou pela cidade. Só devolveram no dia seguinte. A festa tem essa dimensão de proximidad­e com o divino. Na hora da cachaça, realmente é o profano. Mas, no cortejo, no batuque, é a forma de manifestar o religioso”. A imagem foi restaurada em 1978, segundo a professora da Universida­de Católica do Salvador Ana Maria Villar, coordenado­ra de restauro do Laboratóri­o Eugênio Veiga. O padre Edson diz que ainda não acha ‘convenient­e’ a saída da imagem original. “Ainda tem muita bebedeira”.

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