Correio da Bahia

Sem licença para dirigir

- Júlia Vigné julia.nunes@redebahia.com.br

A reta final de 2017 já foi percorrida, mas tem gente que, passada a linha de chegada, já não pode trilhar novos caminhos em 2018, ao menos dirigindo ou pilotando um veículo motorizado. Boa parte dessas pessoas está entre os 15 mil baianos que tiveram de deixar a Carteira Nacional de Habilitaçã­o (CNH) de lado no ano passado - o número é de motoristas que perderam o direito de dirigir por até um ano, de acordo com o Departamen­to Estadual de Trânsito da Bahia (Detran). O órgão de trânsito analisa ainda outros 150 mil processos.

A suspensão ocorre por conta do acúmulo de 20 pontos em multas no período de um ano ou por infrações considerad­as gravíssima­s - que já susta o direito de dirigir, como conduzir veículo sob a influência de álcool, recusar-se a soprar o bafômetro, pilotar moto sem capacete e disputar corrida. Os processos administra­tivos que resultaram nas 15 mil suspensões foram instaurado­s entre 2011 e 2015.

Quem foi flagrado cometendo infrações gravíssima­s que cabem suspensão entre 2016 e 2017 tem que ficar alerta: os condutores terão os processos abertos, promete a relatora da comissão de processos administra­tivos do Detran, Aline Alves.

“Hoje, nós ainda temos um lapso entre a infração e a instauraçã­o do processo administra­tivo. Mas a partir de 2015 nós começamos uma campanha com o intuito de mostrar para o condutor que existe uma penalidade para cumprir, caso ele alcance 20 pontos e cometa essas multas”, disse Aline.

CAMPEÕES EM PONTOS

Para se ter uma ideia, 212 baianos têm mais de 100 pontos na carteira. Desses, 135 residem em Salvador. A capital abriga o campeão de pontos da Bahia: um condutor tem 3.931 pontos na carteira.

O cabeleirei­ro Cláudio Góes, 32 anos, teve a permissão para dirigir suspensa em 2009. “Eu estava dirigindo uma categoria diferente da minha habilitaçã­o. Tinha carteira para moto e estava dirigindo um carro. Aí o agente registrou e minha carteira foi suspensa. Eu cheguei a entrar com recurso, mas eles indeferira­m. Tive que fazer todo o processo de novo”, disse.

Na instauraçã­o do processo, o condutor tem 30 dias para realizar sua defesa. Quem tem a suspensão decretada recebe uma notificaçã­o para comparecer à unidade do Detran-BA, entregar a habilitaçã­o e assinar o termo de suspensão. A penalizaçã­o cabe recurso à Junta Administra­tiva de Recursos de Infração (Jari) e ao Conselho Estadual de Trânsito (Cetran).

O início do cumpriment­o da pena se dá com a assinatura e o motorista fica impedido de dirigir. Caso o motorista seja pego conduzindo qualquer veículo, poderá ter a habilitaçã­o cassada por dois anos. Após o período de suspensão, o motorista apenas terá acesso à carteira após realizar um curso de reciclagem.

O número de 15 mil é considerad­o “dentro da média” pela analista de transporte e tráfego Cristina Aragón. “Dentro do universo de condutores que a Bahia tem, é um número considerad­o dentro da média, proporcion­almente ao número de veículos”, disse. De acordo com o Detran, a Bahia possui 2.699.124 condutores, sendo 788.256 em Salvador.

MENOS INFRAÇÕES

Apesar dos números de CNHs suspensas, o número de infrações de trânsito registrada­s tanto pelo Detran como pela Superinten­dência de Trânsito do Salvador (Transalvad­or) em 2017 sofreu redução em relação Prazo O condutor tem 30 dias para realizar a defesa. Caso ela não seja aceita, ele deverá entregar a carteira

Penalidade O direito de dirigir é suspenso entre um mês e um ano. Reincident­es podem ter direito suprimido entre seis meses e dois anos

Reciclagem Durante o período de suspensão, o motorista deverá passar por um curso de reciclagem de 30 horas, em uma autoescola a 2016. Os baianos estão cometendo menos infrações – e os soteropoli­tanos também.

De acordo com o Detran, em 2017, as multas reduziram de 165.290 para 143.400 infrações registrada­s. As mais cometidas no estado, registrada­s pelo Detran, foram conduzir o veículo registrado que não esteja devidament­e licenciado; dirigir sem possuir carteira ou permissão, deixar de registrar o veículo em 30 dias quando mudar o condutor e deixar de registrar o veículo em 30 dias.

Já em Salvador, a Transalvad­or também registrou uma redução no número de multas: foram 890.800 infrações em 2016, contra 813.998 em 2017.

O taxista Fábio de Oliveira, 49, é um dos motoristas de Salvador que colecionam mais de 20 pontos. “Eu recebi em torno de oito multas esse ano. Tenho menos de 30, mas mais de 20 tenho com certeza”, contou.

Fábio explica que suas multas variam entre estacionam­ento irregular, avanço de sinal e velocidade maior do que permitido na via. “Teve uma injusta. Eu parei o carro para desembarca­r uma passageira no Hospital Aristides Maltez e recebi uma multa por estacionam­ento irregular. Só que eu estava desembarca­ndo uma passageira, e não estacionad­o”, contou.

Mesmo com mais de 20 pontos, o taxista diz que não vai recorrer das multas. “Não recorri e nem vou. Não adianta. Você está certo, escreve o recurso e eles indeferem. Só vou recorrer essa do hospital, porque aí não dá”, disse.

O engenheiro ambiental Ricardo Silva, 50, conta que tem três carros e que muitas de suas multas, na verdade, não são cometidas por ele. “Foram umas oito nesse ano, mas só três são minhas. Tenho que ir no Detran trocar o condutor e pago todas as que são minhas”.

Ele contou que nunca recorreu. “Eu me preocupo muito com multas, mas não sei quantos pontos tenho na carteira. Espero que menos que 20”, disse, brincando.

As infrações mais recorrente­s em Salvador em 2017 foram transitar em velocidade superior à máxima permitida em até 20%, com 381.727 registros; transitar na faixa ou via exclusiva para ônibus, com 60.136; avançar o sinal vermelho - fiscalizaç­ão eletrônica, com 52.002; estacionar em local/horário proibido especifica­mente pela sinalizaçã­o, com 40.903, e estacionar no passeio, com 28.786 registros.

Processos foram instaurado­s pelo Detran entre 2011 e 2015

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