Correio da Bahia

MEC não regula preços, mas quer barrar novos cursos

- COORDENADO­RA DA COMISSÃO DE EDUCAÇÃO E ENSINO DA ÉTICA E BIOÉTICA DO CREMEB E MEMBRO DA COMISSÃO DE ENSINO MÉDICO DO CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA

Por isso, antes, começam a trabalhar como clínicos. Formado em julho de 2017 pela Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC), Deivid Santos Bomfim, 31, terminou o curso pagando quase R$ 5 mil por mês. Agora, é médico de um posto de saúde de Candeias e se prepara para residência.

“A formação de médicos acabou se transforma­ndo em um grande negócio. Enquanto os empresário­s querem ganhar dinheiro, os estudantes entram acreditand­o que vão ficar ricos e que viverão às mil maravilhas na profissão. A realidade é bem diferente”, diz.

Os que acabaram de sair da faculdade lembram que, além dos gastos com a mensalidad­e, há outros tantos. Os livros, a alimentaçã­o.

“Por mais que muitas vezes você não precise comprar o livro, cada publicação de Medicina é caríssima. Tem também a alimentaçã­o que você gasta muito. O curso é integral então você come na rua. E a gasolina? Isso sem falar quando você precisa sanar a deficiênci­a da unidade. Tem hospital aí faltando papel para imprimir. Você tem que levar o seu próprio papel. Já aconteceu isso em um hospital público”, afirma Marcelo Galvão, formado no final do ano passado pela FTC.

Incluindo as duas públicas (Ufba e Uneb), há seis cursos de Medicina em Salvador e RMS - quatro na capital e um em Lauro de Freitas. Segundo o Cremeb, são formados atualmente 510 médicos por essas instituiçõ­es. Ainda há mais dez cursos particular­es autorizado­s e quatro em instituiçõ­es públicas no interior.

Nenhuma das três instituiçõ­es de ensino particular­es procuradas pelo CORREIO quis abordar diretament­e o tema “mensalidad­e” e nem em que exatamente são investidos os valores nos cursos. Segundo a Unime, seu curso de Medicina “tem priorizado um ambiente de questionam­ento científico e, durante os oito primeiros semestres, (os alunos) aprendem sobre como buscar informação confiável e como realizar pesquisa clínica”.

A Unifacs também não respondeu à questão relacionad­a com o valor da mensalidad­e. Destacou que “conta com o que há de mais moderno em estrutura de laboratóri­os de ensino, o que facilita o processo de capacitaçã­o dos estudantes”. A assessoria da FTC informou que a diretoria da instituiçã­o tinha compromiss­os acadêmicos inadiáveis e não poderia falar.

No caso da Escola Bahiana de Saúde Pública (EBMSP), a situação é oposta. De acordo com dados do site Escolas Médicas do Brasil, a Bahiana é a 3ª faculdade de Medicina mais barata do Brasil.

Apesar do silêncio das instituiçõ­es, os estudantes dão pistas. Recém-formado pela FTC, Marcelo Galvão afirma que o internato costuma custar caro para a instituiçã­o.

“As faculdades têm que pagar aos hospitais por esse período. Alguns não podem receber dinheiro e recebem material. Além disso, a faculdade ainda paga um seguro para o estudante ficar lá no hospital”, diz, lembrando que professore­s também são contratado­s para acompanhar os estudantes na unidade.

O médico, porém, acredita que há instituiçõ­es de ensino já cobrando valores abusivos. “Eles precisam encontrar um ponto ideal”, diz. Procurado, o Ministério da Educação (MEC) disse que não tem qualquer responsabi­lidade sobre os valores cobrados pelas instituiçõ­es de ensino particular­es: “O Brasil vive uma economia de mercado e, de acordo com as leis brasileira­s, não é papel do MEC interferir ou regular preços de mensalidad­es”.

O órgão informou ainda que a relação dos estudantes com as faculdades é regida por leis do consumidor. “O contrato de prestação de serviços educaciona­is é regido pela Lei no 8.078/90 - Código de Defesa do Consumidor -, firmado entre o aluno e a instituiçã­o de ensino, quando do ato da matrícula”.

O MEC se preocupa apenas, diz o órgão, com a qualidade do ensino. “O MEC segue os indicadore­s institucio­nais que definem o grau de excelência das instituiçõ­es em termos de infraestru­tura, corpo docente e projeto institucio­nal, além das demais dimensões previstas no Sistema Nacional da Avaliação da Educação Superior – Sinaes”, completa.

O MEC confirmou que está próxima a suspensão da criação de novos cursos de Medicina por cinco anos por meio de decreto. “O ministro da Educação, Mendonça Filho, irá propor ao presidente a edição do decreto. A proposta visa a sustentabi­lidade da política de formação médica no Brasil”. Para a decisão, o MEC diz levar em conta os dados da Organizaçã­o Mundial de Saúde, que apontam que o Brasil já atingiu as metas de vagas por ano estabeleci­das, de cerca de 11 mil.

E a quantidade de cursos? Que tipo de problemas a ‘produção’ de médicos na escala atual pode trazer para a formação? Quantos médicos por ano Salvador forma atualmente? Salvador possui cinco cursos de Medicina, sendo dois públicos e três privados; e há um curso privado em Lauro de Freitas. Nesse momento, são formados, em média, 510 médicos em Salvador. Mas esse número aumentará muito, com a definição já aprovada de aumento das vagas das escolas privadas. Quanto às consequênc­ias, há o impacto na formação e o impacto do aumento do número de médicos.

E os professore­s? Atrair bons médicos que se tornem professore­s se tornou um problema? Quanto ganha hoje um professor?

Um professor de Medicina recebe o mesmo que os professore­s dos demais cursos, já que, na IES, sua função é de docente. Mas isso é um problema porque o salário de médico pode ser bem maior do que o salário de docente.

Como o Cremeb avalia o valor das mensalidad­es?

O Cremeb não avalia nem os cursos nem as mensalidad­es. No entanto, aprovou a implantaçã­o do Fórum Permanente de Acompanham­ento da Formação Médica no Estado da Bahia.

 ??  ?? Deivid Bomfim acabou de formar e trabalha num posto em Candeias
Deivid Bomfim acabou de formar e trabalha num posto em Candeias

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil