Delegado titular diz estar surpreso com o caso
A funcionária pública aposentada Lúcia Helena Neves Caldeira, 54 anos, coleciona 11 multas que somam 48 pontos em sua carteira de habilitação, o que a faz correr sério risco de perder a licença para dirigir. Lúcia poderia até estar conformada se realmente tivesse cometido as infrações, mas o que acontece é que o carro dela, um Toyota Corolla, lhe foi tomado há um ano pelo motorista de um delegado que se passa por policial civil.
Ela acusa Lázaro José Barbosa Santos Silva, o Barbosinha, de ter ido em sua casa, em janeiro de 2017, em Lauro de Freitas, e levado o seu carro – ano 2006, modelo automático. Ainda segundo a aposentada, Lázaro se apresentou como policial civil da 23ª Delegacia (Lauro de Freitas), onde o delegado Antônio Cardoso dava plantão, e tomou-lhe o veículo, se utilizando da história que ouviu na delegacia de que o veículo tinha restrição por conta de uma dívida trabalhista.
A aposentada tinha estado no local para dar queixa de furto de algumas joias de família, levadas da casa dela. Foi quando o motorista ouviu a história do carro.
A aposentada disse que foi ameaçada pelo falso policial e o denunciou à Corregedoria da Polícia Civil no intuito também de que a investigação esclareça que as infrações de trânsito não foram cometidas por ela.
Após contato do CORREIO, a Corregedoria informou que Lázaro não é policial civil e determinou a apreensão do veículo e “demais providências cabíveis”. A Secretaria da Administração do Estado (Saeb) também constatou que Lázaro nunca foi servidor estadual. Atualmente, ele é visto circulando nas dependências da 25ª Delegacia (Dias D'Ávila), onde Antônio Cardoso trabalha como plantonista duas vezes na semana.
A aposentada disse que, durante todo o momento em que era interrogada por Antônio Cardoso, Lázaro estava na sala. “Pra mim, ele era mais que o motorista do delegado, um policial da unidade, porque foi ele quem me levou à sala do delegado e ainda disse: ‘aguarde um pouco que o doutor já está vindo para ouvi-la’. Ele agia com tanta propriedade, de quem estava trabalhando, que nunca passou pela minha cabeça que ele não era lotado na unidade”, contou Lúcia.
Passados dez dias, Lúcia Helena disse que começou a receber ligações de Lázaro. “Foram várias ligações me colocando contra a parede em relação à situação do carro. Teve momentos, inclusive, que ele se propôs a pegar a pessoa que furtou [as joias] e dar um corretivo, que ela ia ficar um ano sem sair de casa. Ele me perguntou se isso me traria tranquilidade e eu disse que não, que não queria que batesse em ninguém. Disse que confiava na Justiça”, relatou Lúcia ao CORREIO. Diante da resposta, o falso policial ameaçou a mulher.
“Ele insistia em me ligar. Queria saber como eu estava, se tinha viajado, se estava sozinha, se tinha comentado algo com alguém, até que ligou querendo uma procuração transferindo o meu carro para ele. Foi quando não aguentava mais e contei para um amigo, que me orientou a denunciá-lo à Corregedoria”, disse.
As multas foram emitidas entre 29 de janeiro e 6 de outubro de 2017. São infrações como transitar em velocidade superior à máxima permitida, estacionar em esquina e em vagas reservadas a pessoas com deficiência. Duas foram em Lauro, e as demais, em Salvador.
Aqui, ele (Lázaro) não desempenha qualquer atividade policial.
Esse caso pra mim é novo. Manterei contato com a Corregedoria João Eça O CORREIO esteve duas vezes, este mês, na 25ª Delegacia (Dias D’Ávila) em busca de Lázaro Barbosa e do delegado Antônio Cardoso, em dias de plantões do delegado, sem sucesso. Na mais recente, dia 16 - a primeira foi no dia 11 - o CORREIO conversou com o delegado titular da unidade, João Eça. Ele confirmou que Lázaro frequenta a delegacia.
“O delegado Antônio Cardoso disse que não dirige e, por isso, tem um motorista que o traz aqui, Lázaro, toda vez que tem que dar plantão”, afirmou. Ao saber da denúncia feita à Corregedoria, João Eça mostrou-se surpreso e disse que manterá contato com a Corregedoria.
A reportagem também procurou a corregedora-chefe da Polícia Civil, delegada Kátia Brasil, que, por meio da assessoria da Polícia Civil, informou que um documento foi encaminhado, no dia 16, à 25ª Delegacia, recomendando ao delegado titular a apreensão do veículo e adoção das medidas legais.
Anteontem, o delegado João Eça informou que ainda não tinha recebido o documento. A reportagem também procurou o titular da
23ª Delegacia (Lauro de Freitas), delegado Joelson Reis, para saber se ele tinha conhecimento da denúncia contra Lázaro e sobre o andamento do inquérito aberto sobre o furto das joias, mas ele está de férias. O suspeito não foi localizado para comentar a denúncia. Ontem, Eça informou que Antônio Cardoso entrou de férias e só retornará em fevereiro.