Correio da Bahia

Eleições: economia em alerta

- CARLOS SVIONTEK, DIRETOR DA LEGACY PARTNERS E FORMADO EM ADMINISTRA­ÇÃO PELA UNIVERSIDA­DE FEDERAL DO PARANÁ

O ano de 2017 foi de estabiliza­ção da economia, com o controle da inflação e a redução significat­iva de juros. As equipes lideradas por Henrique Meirelles (ministro da Fazenda) e Ilan Goldfajn (presidente do Banco Central) iniciaram a recuperaçã­o do mercado de crédito e o aumento dos salários reais, favorecend­o o aumento de investimen­tos e crédito coorporati­vo. Mesmo com as notícias positivas no segundo semestre de 2017, as previsões para o ano de 2018 ainda são nebulosas.

Embora tudo indique que o cresciment­o do PIB brasileiro em 2018 seja de 2,5 a 3%, as eleições presidenci­ais, que ocorrerão em outubro (1º turno), nublam o cenário de médio e longo prazo. Em relação ao pleito, o mercado tem como maior receio a eleição de um candidato de esquerda (Lula, ou como segunda opção Ciro Gomes), que provavelme­nte implicaria em um retrocesso em todas as mudanças estruturai­s realizadas pelo atual governo (Teto de gastos, TLP e Reforma Trabalhist­a) e em um agravament­o do cenário econômico. No outro extremo da disputa, encontra-se o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ), que embora tenha tentado emplacar um discurso supostamen­te ‘liberal’ em alguns eventos, deu várias demonstraç­ões de ser contrário às reformas e defende com frequência a intervençã­o estatal na economia, também visto com maus olhos pelo mercado.

Seguindo os dados do mercado, o cenário deve permanecer estável em relação a juros (6,75% a.a.) e a inflação (menos de 4% a.a.), porém deve encontrar grande volatilida­de cambial durante todo o ano. O boletim Focus (Cerca de cem instituiçõ­es financeira­s ouvidas pela Banco Central) prevê que o dólar americano deva finalizar o ano de 2018 cotado em R$ 3,30, porém a oscilação deve quebrar a barreira dos R$ 4 (cenário eleitoral negativo) ou dos R$ 3 (cenário eleitoral positivo). Pensando nisso, as empresas devem tomar muito cuidado na hora de captar recursos, principalm­ente no que se refere ao índice em que o empréstimo será indexado. Só assim será possível evitar surpresas no médio prazo com possíveis alterações do próximo governo. Logo, o planejamen­to de uma dívida estruturad­a é a opção mais segura para fugir dos produtos de prateleira de bancos comerciais.

Além das eleições, outros dois fatores complicado­res podem desestabil­izar o quadro: a realização das reformas estruturai­s propostas pelo governo Temer e o risco associado à classifica­ção do Brasil pelas agências de rating. A não aprovação da reforma da previdênci­a, a principal em discussão, poderia representa­r a gota d’água para o rebaixamen­to perante as agências, que, por consequênc­ia, diminuiria a quantidade de investimen­tos estrangeir­os no país e também poderia impossibil­itar o governo de emitir títulos no exterior, perdendo uma importante fonte de financiame­nto.

Ou seja, esse cenário desafiador vai exigir muita maturidade e paciência de todos os empreended­ores brasileiro­s, principalm­ente no segundo semestre do ano. Antes de tomar decisões importante­s, será fundamenta­l analisar os mais variados cenários para que a possível instabilid­ade do mercado não acabe gerando grandes perdas.

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