Baianos com um coração novo
Cosme Bispo, 40 anos, foi o único paciente a fazer transplante de coração no Hospital Ana Nery desde 2015 e até hoje faz acompanhamento no local. Duas vezes na semana, ele vem a Salvador em um carro disponibilizado pela prefeitura de Candeias para a reabilitação. “A cada três meses faço exames e consultas”, conta o aposentado.
Segundo o Ministério da Saúde, o paciente transplantado retorna sua vida da forma mais normal possível após o procedimento. No entanto, a luta de quem espera por um transplante não acaba quando a pessoa recebe um coração. Além do cuidado com o uso dos medicamentos que evitam a rejeição do órgão, o paciente ainda deve controlar a doença que levou ao transplante e evitar o aparecimento de outros problemas.
“Até 80% dos pacientes desenvolvem hipertensão pós-transplante e 40% desenvolvem diabetes por causa do uso de imunossupressores. O acompanhamento tem que ser rigorosíssimo, e a equipe do pré e do pósoperatório tem que ter muito cuidado e treinamento”, diz o médico André Durães.
Além disso, metade dos pacientes morre antes de completar dez anos com o coração transplantado. “No Brasil, a sobrevida dos pacientes gira em torno de
70% a 80% em cinco anos e de 50% em 10 anos”, enumera o especialista.
No Brasil, as doenças mais comuns que levam o paciente a precisar de um transplante de coração são a miocardiopatia isquêmica, que é secundária ao infarto; obstrução das artérias coronárias, valvulopatia, febre reumática e a Doença de Chagas. “Eu me sinto ótimo, porque antes eu não podia nem andar nem respirar por causa da Doença de Chagas. Agora, respiro direito e subo ladeira de leve, sempre caminho”, diz Cosme Bispo.
A professora Reinildes Santos Abreu, 53 anos, transplantada em dezembro de 2013, no Messejanas, em Fortaleza, diz que se sente abençoada, mas reconhece as dificuldades dos transplantados. “A gente corre atrás para viver e depois para sobreviver”, resume. Hoje, ela trabalha, faz caminhadas e exercícios na academia e dança muito forró. “Adoro uma festa”. No entanto, por muito tempo não tinha fôlego nem para se manter em pé. “Levei mais de três anos sentada por causa dos problemas cardíacos. Tive três infartos, quatro AVCs, trombose que quase me fez perder a perna e desde dezembro de 2013, vivo com o coração de um rapaz de 43 anos”, revela.
De acordo com o Ministério da Saúde, a opção pelo transplante é feita pela equipe médica quando esse é o melhor recurso para o quadro clínico do paciente.