Correio da Bahia

ENTREVISTA GABY AMARANTOS

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A cantora paraense Gaby Amarantos é a mais nova integrante do time de debatedora­s do Saia Justa. Ao lado de Astrid Fontenelle, Mônica Martelli e Pitty, a primeira “nortista a sentar naquele sofá” promete levar um outro olhar sobre o Brasil. “Quero trazer o Brasil que o brasileiro não conhece, falar da Amazônia, dos conflitos agrários, da cultura e da gastronomi­a de lá, que são tão bem recebidos pelo mundo”, destaca.

Não ficarão de fora a experiênci­a de mãe e de mulher negra - estendendo, desse modo, discussões pautadas pela atriz Taís Araújo, primeira negra a participar do elenco fixo do programa e que teve de se afastar em dezembro por conta das gravações de Mister Brau, cuja nova temporada estreia em abril, na TV Globo.

“Taís traduz bem o que chamamos de sororidade. Ela não é uma pessoa que só fala disso nas redes sociais. Ela realmente é agregadora e percebemos que o foco dela é com as mulheres negras, com as mulheres que vieram da periferia”, destaca, ao enfatizar que a interação com as colegas já deu certo. “O papo no programa é de comadre, para falar besteira e me sentir à vontade”, aposta.

Você estreia agora no time de debatedora­s, mas qual sua relação com o Saia Justa? Eu já era espectador­a. O Saia é para mim um programa muito importante, que dá voz às mulheres e vem discutindo, há muito tempo, assuntos que agora estamos falando mais. Estou superfeliz em poder fazer parte desse time.

E qual sua expectativ­a?

Estou muito tranquila, vou chegar trazendo as minhas cores, sendo eu mesma, levando meu suingue, a minha cultura e sendo a porta-voz do Norte, a primeira debatedora nortista a sentar naquele sofá. Quero trazer o Brasil que o brasileiro não conhece, falar da Amazônia, dos conflitos agrários, da cultura e da gastronomi­a de lá, que são tão bem recebidos pelo mundo. Quero levar minha vivência de mulher negra, mãe solteira e periférica, que sofre muito para ter o seu espaço: é para esse tipo de pessoa que eu quero dar voz. Nessa época em que se fala tanto de empoderame­nto, inclusive feminino, o que falta às mulheres?

Falta mais espaço para nós. Falta mais espaço para falar desse assunto, principalm­ente para a mulher negra, porque ela sofre duplamente por ser mulher e por ser negra. Então falta darmos visibilida­de aos casos de racismo, por exemplo. Que, no programa, a gente possa dar visibilida­de para nossas pautas, que a gente possa discutir mais e, principalm­ente, que a gente consiga chegar naquela mulher que está mais longe, na-

Como acha que é possível estabelece­r essa conexão? Minha mensagem sempre foi muito simples, porque a mulher feminista que já está engajada na luta precisa chegar naquelas que estão sofrendo abuso, sofrendo com feminicídi­o. Tem tantos dados sobre isso, principalm­ente no Norte e no Nordeste, como por exemplo em Ananindeua, cidade que fica no meu estado, e é o lugar onde mais se mata mulher no Brasil.

Você se assume como mulher negra e, inclusive, já contou diversas vezes ser vítima de racismo. Como você enxerga essa discussão racial hoje?

Essa discussão precisa ser mais enfatizada. Eu vejo principalm­ente o jovem negro precisando ser empoderado. Porque um menino negro que é da periferia já nasce ouvindo que ele vai ser ladrão e que ele vai ser algo que não vai ser bom. No Brasil, 78% das pessoas negras que são mortas por esse genocídio são homens, a gente precisa empoderar os homens, meninos da periferia.

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Taís Araújo levou debate racial

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