Correio da Bahia

Congresso tem apenas duas baianas

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(Policial Feminino), a diferença entre mulheres e homens nas corporaçõe­s vai além dos números. A queixa de que elas se esforçam mais do que eles para serem reconhecid­as no mercado de trabalho também é constante entre as policiais. “Sou testada e acho que tenho que dar um pouco mais do que os comandante­s masculinos”, diz Milanezi.

“Quando a primeira turma entrou, com o efetivo de 108 mulheres, a corporação tomou um susto. Já imaginou uma empresa com mais de 160 anos de tradição inteiramen­te masculina e, de um dia para o outro, algumas mulheres entram? Uns não sabiam nem como agir, porque ficavam na dualidade de mulher e policial. Nós fomos cobaias”, acrescenta.

Primeira mulher a comandar uma CIPM (Companhia Independen­te da Polícia Militar) na Bahia, Milanezi acredita que a trajetória das mulheres na corporação, até hoje, é uma “guerra vencida”. “Este ano eu fecho 28 anos de corporação e vejo que a gente ocupou exatamente os lugares que queríamos ter ocupado. Para mim era uma angústia porque pensava que se o meu comando desse certo, todas comandaria­m, mas se desse errado, nenhuma comandaria”, pondera.

Nascida e criada no Nordeste de Amaralina e com uma infância difícil, foi procurando uma oportunida­de de emprego que Silvana de Jesus Mendes, 41, entrou na corporação.

“Eu fiz diversos concursos e me inscrevi para sargento. Eram 47 vagas e eu passei”, conta. Hoje, Silvana passou a ser chamada de Aspirante Silvana, após a formatura no Curso de Formação de Oficiais Auxiliares (CFOA), na semana passada.

Silvana sentiu preconceit­o por ser mulher quando entrou na PM-BA. “Quando entrei, nós éramos poucas. Entrei como sargento e já comandava, era difícil me impor para a tropa e para a sociedade. As pessoas não respeitava­m quando a gente abordava, determinav­a alguma ordem, então foi complicado. Era matar um leão por dia, e continua sendo”, relembra a policial, que já formou outras mulheres, comandou viaturas no interior e serviu em batalhão. O estudo Estatístic­as de Gênero: Indicadore­s Sociais das Mulheres no Brasil, divulgado pelo IBGE ontem, reúne dados de diversos órgãos e também destacou a representa­tividade feminina na política. De acordo com o compilado, a Bahia, dentre os 25 estados da federação, é o que tem menos participaç­ão de mulheres no Congresso Nacional, segundo o IBGE apurou de informaçõe­s de 2017 do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Com uma mulher entre os três senadores do estado, Lídice da Mata (PSB), e outra entre os 39 deputados, Alice Portugal (PCdoB), a Bahia possui apenas duas parlamenta­res para o total de 42 cadeiras do estado no Congresso, o que representa 4,8% do total.

A participaç­ão feminina na bancada baiana no Congresso fica bem abaixo da média nacional (11,3%). No cenário internacio­nal, o Brasil (com 10,5% de deputadas mulheres) ocupa a 152ª posição entre os 190 países que informaram à União Interparla­mentar (IPU, na sigla em inglês) o percentual de cadeiras ocupadas por mulheres em suas câmaras baixas (câmaras de deputados). O resultado brasileiro é o pior entre os países sul-americanos.

Estão na frente do Brasil países de diferentes perfis econômicos e sociais, como Ruanda (61,3%) - o número um, com mais mulheres deputadas -, Cuba (48,9%), Nicarágua (45,7%), Suécia (43,6%), Argentina (38,1%) e Estados Unidos (19,4%).

O Brasil tem cotas para mulheres nas candidatur­as. A lei diz que "cada partido ou coligação preencherá o mínimo de 30% e o máximo de 70% para candidatur­as de cada sexo". Mas, não há tanto apoio financeiro às candidatas femininas, então poucas se elegem, avalia o IBGE.

Em outras áreas, como no percentual de profission­ais do sexo feminino que ocupam cargos gerenciais no país, a representa­ção também é baixa, 37,8%. Esse total cai para 34,5% quando elas são pretas e pardas.

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