Especialistas criticam delivery
Para o antropólogo e curador do Museu da Gastronomia Baiana, Raul Lody, o acarajé e o abará que são vendidos por delivery não são ‘os verdadeiros’ acarajé e abará. Lody, que é autor do livro Tem Dendê Tem Axé, defende que o hábito de comer acarajé é formado por características próprias.
“Uma coisa é você ir no tabuleiro, ver a fritura, sentir o cheiro do dendê, o acarajé quentinho, o molho de pimenta, o vatapá por cima e comer naquele contexto da baiana de turbante, de saia, de bata e todo um contexto estético. Pelo delivery, você recebe um bolinho de feijão frito no dendê. É outra coisa, porque a gente não come só os ingredientes. A gente come símbolos”.
De acordo com ele, as comidas de rua são comuns em todas as culturas e momentos sociais. Há desde mercados a feiras. O acarajé é uma dessas comidas – e é assim desde seu antecessor: o acará, tradicional do Benin e da Nigéria. “É a mesma coisa. A pessoa está lá fritando, só que não tem recheio, não tem nada. É só um bolo de feijão frito”.
Diante do acará, o acarajé aumentou de tamanho e virou uma espécie de sanduíche – com muito recheio. “São milhares de pessoas que vivem vendendo acarajé na rua. Gera uma grana considerável e uma cadeia produtiva do feijão, do camarão, do dendê, das pimentas... É uma cadeia econômica importante e que é preservada na manutenção da maneira tradicional de se comer acarajé. Se não tiver nesse contexto, não é acarajé para mim. É bolinho de feijão”.
A visão do antropólogo é a mesma da presidente da Associação das Baianas de Acarajé (Abam), Rita Santos. Para ela, o delivery ‘não tem nada a ver com acarajé’ e é o reflexo da ação de empresários. Na quinta-feira (15), o 5º Encontro Nacional de Baianas de Acarajé, realizado no campus da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), teve como tema justamente ‘Empresários versus Baianas de Acarajé e Seus Tabuleiros’.
“Isso está tirando os empregos das baianas. Acarajé é vendido no tabuleiro. Tem um empresário que botou mais de 600 pessoas vendendo acarajé na rua, mas não são baianas. São vendedores de acarajé. Isso é comércio”, defende.