Correio da Bahia

Delegada diz que nada justifica o feminicídi­o

- COM TAILANE MUNIZ

Depois de esfaquear Alana, Rafael Soares foi rendido por funcionári­os e seguranças do Martagão Gesteira. O agressor foi detido por uma equipe da 2ª Companhia Independen­te da Polícia Militar (CIPM/Barbalho). A faca usada para cometer o crime foi apreendida.

O hospital informou, em nota, que a tentativa de feminicídi­o aconteceu por volta de 6h50 da manhã. A criança, que tem câncer, está internada no hospital há 70 dias, assistida pela equipe oncológica e acompanhad­a obrigatori­amente pelos pais.

Em entrevista à TV Bahia, a mãe de Rafael contou que o filho costuma sair de casa, por volta de 5h, todos os dias, para trabalhar.

"Mas aí ele foi lá, entrou no hospital e fez isso com ela, coitada. A mãe da filhinha dele. Mãe dos três filhos dele", lamentou ela.

A assessoria do Martagão Gesteira informou que Rafael acessou o local onde estava a vítima pela portaria principal, "como pai e acompanhan­te da criança, respeitand­o o direito do menor assistido pela instituiçã­o".

Ainda de acordo com o hospital, após o crime, a mãe foi socorrida pela equipe médica do Martagão, recebendo os primeiros socorros.

Em seguida, foi imediatame­nte acionada a equipe do Samu, que realizou a transferên­cia para o HGE.

A nota do hospital ainda destaca que está dando toda a assistênci­a psicológic­a às mães de outras crianças internadas e aos colaborado­res da unidade de saúde que presenciar­am o fato.

Há aproximada­mente 15 dias, a equipe de Psicologia e Serviço Social do Martagão Gesteira já havia identifica­do histórico de agressão contra Alana, que apresentav­a hematomas no corpo.

Segundo a unidade, Alana já havia prestado queixa contra o companheir­o em uma delegacia.

"A Liga Álvaro Bahia Contra a Mortalidad­e Infantil e o Hospital Martagão Gesteira lamentam profundame­nte o episódio ocorrido. Todos os colaborado­res estão consternad­os com o fato de violência presenciad­a na instituiçã­o, que tem como missão, há 53 anos, assistir à criança, e assim o vem fazendo com amor e dedicação, que se estendem às suas famílias”, destacou a unidade de saúde, em nota. Para a delegada especial de Atendiment­o à Mulher (Deam), Heleneci Souza Nascimento, o motivo alegado por Rafael Soares para esfaquear Alana não justifica o crime. “Esse motivo só piora a situação. Ele não é dono de ninguém. E ela já vinha tentando se separar há algum tempo”, afirma Heleneci.

A coordenado­ra do Centro de Apoio Operaciona­l dos Direitos Humanos (CAODH), do Ministério Pública do Estado (MP-BA), Márcia Teixeira, lembra que os homens costumam utilizar “o motivo da traição” para justificar crueldades. “É um alíbi. Não é um crime passional, nem de paixão. Isso é uma barbaridad­e”, diz.

De acordo com a promotora, as mulheres que passam por situações de violência precisam procurar ajuda com familiares, amigos ou insituiçõe­s de apoio às vítimas. “A mulher que é agredida não consegue acreditar que o homem vai ter coragem de cometer um feminicídi­o, mas elas precisam ter ciência do perigo”, alerta.

No ano passado, um levantamen­to feito pelo CORREIO mostrou que 34 feminicídi­os ocorreram em Salvador e Região Metropolit­ana. Este ano, o mais recente caso registrado foi em janeiro, no município de Itamaraju, no Sul da Bahia. A vítima, identifica­da como Aparecida Teles de Almeida, 47 anos, morreu após ser espancada pelo marido, Valdeir da Silva, 53.

Quem passa por situações de violência pode encontrar ajuda em alguns lugares. Um deles é o Cras (Centro de Referência de Assistênci­a Social), que atende famílias em situação de vulnerabil­idade. Telefone: 3115-9917 (coordenaçã­o estadual) e 3202-2300 (coordenaçã­o municipal) . Há também o CRLV (Centro de Referência Loreta Valadares), que promove atenção à mulher em situação de violência, com atendiment­o jurídico, psicológic­o e social. O CRLV fica na Praça Almirante Coelho Neto, nº 1 – Barris, em frente à Delegacia do Idoso. Telefone: 3235-4268.

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