SALVADOR!
“O que você pode fazer pelo mundo hoje?”. A frase, escrita em uma cartolina estirada em uma praça na Pituba, mostra o que é prioridade para quem faz trabalho voluntário: vontade e dedicação. Em um domingo qualquer de março, enquanto uns gozavam o direito quase divino de descansar, integrantes do Rotaract Club Salvador Aratu se reuniam em torno da pergunta central. O grupo é uma ala jovem do Rotary Club voltada para pessoas de 18 a 30 anos e tem, atualmente, 16 membros. Pouca gente que, junta, tem conseguido promover mudanças significativas através de projetos voltados para servir o outro.
O maior desses projetos é o EscolA+, que atua no Colégio Estadual Rômulo Almeida, no Imbuí. Através dele, estudantes do 3º ano do ensino médio recebem bolsa em cursinho pré-vestibular e os do 1º e 2º anos têm aulas semanais de reforço. Graças à parceria, até a biblioteca do colégio foi reformada, no ano passado. Ganhou ar-condicionado, computador, mesas, parte dos livros e ajustes estruturais.
Eles rifaram camisas oficiais da dupla Ba-Vi, organizaram festival de tortas (com atrações musicais) e pediram suporte ao Rotary. “Aí a gente juntou tudo, conseguiu levantar R$ 20 mil e fazer a reforma da biblioteca”, Caio Menezes, 30 anos, que na organização interna do Rotaract é o diretor de projetos. A Secretaria Estadual da Educação custeou a mão de obra.
Uma das ramificações do EscolA+ é o Gabaritando, projeto que desde 2015 já conseguiu 14 bolsas integrais para alunos do Rômulo Almeida no Único Pré-Vestibular. Uma delas foi para Jeane de Souza, 17, que concluiu o 3º ano em 2017 e agora curte os últimos
É muito difícil, nessa realidade da escola, você motivar os alunos, porque eles, às vezes, não acreditam. A gente tenta mostrar aos alunos que eles têm futuro e são capazes Rodrigo Aguiar dias de folga antes de iniciar o Bacharelado Interdisciplinar de Humanidades na Ufba. Foi a escolha após ser aprovada também em Ciências Sociais na Uneb e em Psicologia na Unifacs. Ao olhar para trás, Jeane avalia que a oportunidade fez a diferença. “Eu fiz valer a pena, e não só pela nota. Porque antes de vir o resultado do Enem, da Uneb, da Unifacs ou de qualquer vestibular, a gente olha e sabe que valeu a pena. Eu não teria como pagar”, comenta. A mensalidade custa R$ 790.
A realidade universitária que ela vai conhecer não é mais novidade para João Gabriel Modesto, 18, que durante o 3º ano, em 2016, saiu do turno matutino para o noturno para poder conciliar com a bolsa no cursinho e o estágio que fazia.
“Essa ação deles me possibilitou conhecer o mundo ao ingressar na Ufba, porque a gente desmistifica várias coisas e vê que esses espaços que não nos são ofertados podem ser viabilizados por ações como essa. Eu acho que essa atitude do Rotaract é justamente isso, uma subversão da meritocracia que está instaurada na sociedade. Se eles não tivessem esse ideal de equidade, de inserir pessoas e fazer com que essa cultura mude, isso não ocorreria”, analisa o estudante do 3º semestre de Psicologia.
O diretor do colégio, Elísio Santos, tem os ex-alunos como referência diante de uma dura realidade. “Tem meninos aqui que não vivenciam no meio familiar, nem dos amigos, pessoas que tiveram sucesso na vida através da educação. A gente está com a ideia de levar os estudantes para passar um dia na Ufba para eles verem que a Ufba existe, que tem estudante do Rômulo lá. A mudança que aconteceu com Jeane por participar desse processo todo é fantástica”.
Aos 29 anos, Rodrigo Aguiar é presidente do Rotaract - além de doutorando em Química. E algo que o satisfaz é quando a palavra “perspectiva” entra no vocabulário. “É muito difícil, nessa realidade da escola, você motivar os alunos porque eles, às vezes, não acreditam. Tem aquele colega que está trabalhando, ganhando um alário mínimo, para comprar um tênis bom, um celular bom. E não sabe que lá no futuro vai ser cobrado por isso. A gente tenta mostrar aos alunos que eles têm futuro e são capazes”.