Confusões, rojão e buzinaço
cômodo que servia de alojamento para policiais de outras cidades, em missão na capital paranaense, foi transformado nos últimos dois meses em cela especial para receber o petista.
O Complexo Médico Penal (CMP), em Pinhais, região metropolitana de Curitiba, que é unidade prisional do governo do Estado, onde estão a maior parte dos presos provisórios e alguns dos condenados da Lava Jato, foi descartada desde o início.
Como ex-presidente, Lula tem direito a uma cela especial. Cogitou-se um espaço no quartel do Exército, no bairro Pinheirinho, em Curitiba, mas a hipótese também foi desconsiderada por integrantes do grupo.
Antes de se entregar à Justiça, o ex-presidente Lula fez questão de falar para a militância. Muitos presentes subiram nas janelas e se espremeram para acompanhar. O público gritou “não se entrega”, em vários momentos.
Lula avisou que não atenderia os pedidos. “Eu vou cumprir o mandado (de prisão contra ele) e vocês vão ter que se transformar, cada um de vocês vai se chamar Chiquinha, Zezinho, e todos vocês vão virar Lula”, disse.
“Eles têm de saber que a morte de um combatente não para a revolução”, afirmou, sendo ovacionado pelos presentes. “Minhas ideias já estão pairando no ar. Não adianta achar que tudo vai parar. Meu coração baterá pelo coração de vocês”.
O ex-presidente fez um discurso enérgico e carregado de palavras de ordem, sem poupar críticas aos seus opositores. “A história vai provar que quem cometeu crime foi o delegado que me acusou”, disse. Lula disse ainda que pessoas chegaram sugerir a ele o exílio, mas que “não tem mais idade para isso”.
O ex-presidente fez um discurso de enfrentamento ao Judiciário, ao Ministério Público e à imprensa. Mesmo a caminho da cadeia e inelegível, pela condenação em segunda instância, o líder petista persistiu na retórica de candidato. Foi enfático na crítica ao Supremo. “Quem quiser votar com base na opinião pública (que) largue a toga e vai ser candidato a deputado. Escolha um partido político e vai ser candidato”, cutucou.
“Vou de cabeça erguida e vou sair de peito estufado de lá”, afirmou, na frase final, às 12h55. O discurso durou cerca de 55 minutos. Estouro de rojões foram ouvidos em diversos estados brasileiros após o ex-presidente Lula se entregar à Polícia Federal. As manifestações a favor da prisão do ex-presidente ocorreram em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Rio Grande do Sul e Curitiba.
Quando Lula se entregou à PF, houve fogos e buzinaços em diversos pontos de Brasília. Em Águas Claras, cidade do Distrito Federal, pessoas acenderam e apagaram as luzes em comemoração.
Na capital paulista, foram ouvidos disparos de fogos de artifício nos bairros Cambuci, Vila Romana, Perdizes, Santa Cecília, Alto da Lapa, Vila Madalena e Pacaembu. Também foram disparados rojões em cidades da Região Metropolitana de São Paulo, como Santo André e São Bernardo do Campo, sede do Sindicato dos Metalúrgicos.
No momento em que o petista deixou o prédio do Sindicato dos Metalúrgicos, foram ouvidos gritos, buzinaços e panelaços em diferentes regiões de São Paulo, como Saúde (zona sul), Higienópolis (centro) e Pinheiros (zona oeste), onde também houve fogos de artifício.
Quando o helicóptero com o ex-presidente pousou no aeroporto de Congonhas, por volta das 20h20, também foram ouvidos muitos fogos na região. Houve confusão e ao menos uma pessoa foi presa.
Em Ribeirão Preto, no interior paulista, fogos foram ouvidos em bairros da zona sul. Em Belo Horizonte, o foguetório ocorreu na Savassi (centro-sul).
Além de toda a vigília no Sindicato dos Metalúrgicos em São Bernardo do Campo, simpatizantes de Lula se aglomeraram também na Polícia Federal de Curitiba.
À espera de Lula, centenas de simpatizantes do petista ficaram em um dos acessos da superintendência da PF no Paraná.
Em clima de quermesse, com música e barracas de comida, eles cantaram e homenagearam o ex-presidente. Líderes religiosos foram convidados e discursaram.
Diante da hostilidade, equipes de TV reduziram as entradas ao vivo no local.
Ao contrário do que havia sido solicitado pela Polícia Militar paranaense, manifestantes contra Lula soltaram fogos de artifício nas proximidades da PF no momento em que o helicóptero com Lula pousou, vindo do aeroporto Afonso Pena.