Correio da Bahia

Projetos na Câmara discutem prisões

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que o voto da ministra seguiu o raciocínio de que se consolidou a jurisprudê­ncia sobre a possibilid­ade de prisão após condenação em segunda instância. A jurisprudê­ncia, destacou, “não se muda ao sabor do acaso”.

“A ministra apelou para valores extremamen­te importante­s para a ética da magistratu­ra”, disse Moro. O juiz ainda elogiou o comportame­nto de Rosa Weber, conhecida por não dar declaraçõe­s à imprensa. Na avaliação dele, a ministra está correta. “Todos os demais estão errados, inclusive eu, que estou aqui”, afirmou.

Moro afirmou que o princípio de presunção da inocência não pode ser interpreta­do como garantia de impunidade aos criminosos. Para ele, corrupção e impunidade “caminham juntos”. Além da ministra Rosa Weber, o juiz mencionou o voto do ministro Barroso e considerou igualmente “eloquente” a posição do magistrado.

O juiz ainda afirmou que casos judiciais concretos são importante­s para enviar uma mensagem de atenção às pessoas, de que “você pode ser o próximo”.

O juiz também exaltou a Lava Jato e defendeu reformas mais amplas para acabar com o loteamento político de cargos no Brasil. “É necessário ter reformas mais amplas para diminuir incentivos à corrupção. Isso que chamamos de loteamento político de cargos públicos se encontra na raiz dos problemas da Petrobras”, disse.

O juiz argumentou que criou-se no Brasil um ambiente institucio­nal que favorece a corrupção. “Não se pode construir um processo penal que permita que pessoas poderosas permaneçam impunes porque têm condições de manipular o sistema para impedir que um caso concreto chegue ao fim”, disse.

O ministro Gilmar Mendes, do STF, defendeu ontem o respeito à “dignidade da pessoa humana” no combate à corrupção e na punição de criminosos. Ao rebater as críticas sobre as condições da prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ele apontou que há um “lado animalesco que está se manifestan­do” nas pessoas.

“O ex-presidente Lula vai ter uma suíte, um banheiro...’ Gente, onde que nós estamos com a cabeça? Aonde foi a nossa sensibilid­ade?”, questionou durante sessão da 2ª turma do STF. Sem citar nomes, o ministro afirmou que fica com vergonha das pessoas que criticaram as condições mínimas de conforto oferecidas a Lula. Em carta endereçada ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, governador­es e senadores lamentaram não poder encontrá-lo pessoalmen­te, mas declararam estar firmes ao lado do petista. O grupo, que visitaria o ex-presidente em Curitiba, ontem, foi barrado.

“Estivemos aqui e sempre estaremos. Ao seu lado, firmes na luta. Infelizmen­te, a Lei de Execução Penal não foi cumprida adequadame­nte e não podemos abraçá-lo pessoalmen­te”, diz a carta. “Mas, por nosso intermédio, milhões de brasileiro­s e brasileira­s estão solidários e sendo a sua voz por um Brasil justo, democrátic­o, soberano e livre. Lula Livre”, continua. Uma imagem da carta, escrita a mão, foi publicada no Twitter da presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann.

O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), afirmou que os dez chefes de Executivos estaduais foram surpreendi­dos com a decisão de impedir o acesso a Lula.

“Eu fiquei surpreso com o fato de não termos conseguido que o presidente Lula tivesse um direito respeitado e assegurado na Lei de Execução Penal que é o direito à visita, está no artigo 41, infelizmen­te, mais uma decisão inexplicáv­el em que se considerou que seria uma espécie de privilégio”, disse.

Para Dino, “privilégio é o que não está na lei e, nesse caso, está na lei [a previsão de visitas]”.

“Foi negado de modo que deixamos o registro da nossa indignação e, ao mesmo tempo, manifestam­os a nossa solidaried­ade pessoal e política ao ex-presidente Lula”, destacou. Ressuscita­da após a condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na segunda instância da Justiça, a discussão sobre execução antecipada da pena levou à apresentaç­ão de duas Propostas de Emenda à Constituiç­ão (PECs) na Câmara somente nos últimos 15 dias. São esses projetos que o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), promete levar à votação. Ambos querem deixar claro na Constituiç­ão que a prisão começará depois da sentença de segundo grau, ainda que haja recursos pendentes. O relator será Rubens Bueno (PPS-PR).

O deputado Alex Manente (SP), líder do PPS na Câmara e autor de uma das PECs, apresentad­a no último dia 27, acredita que a prisão de Lula facilitará a aprovação da matéria no Congresso. Ele conta que conseguiu mais de 171 assinatura­s, número mínimo por se tratar de emenda constituci­onal, em cerca de 24 horas, após uma declaração do juiz Sergio Moro, da Lava Jato na primeira instância, de apoio à execução antecipada da pena.

“É uma matéria que depende muito da opinião pública. O caso do Lula agora vai trazer uma facilidade para a PEC tramitar, sem dúvida”, diz Manente.

A proposta está na Comissão de Constituiç­ão e Justiça (CCJ) e tramita em conjunto com a outra PEC recente sobre o tema, de autoria do deputado Onix Lorenzoni (DEM-RS). O democrata não conseguiu todas as assinatura­s necessária­s no fim de março. Mas no último dia 4, ele obteve o apoio necessário para protocolar a proposta de emenda constituci­onal.

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Os 11 governador­es e três senadores tentaram negociar a visita ao ex-presidente Lula com a direção da Polícia Federal, mas foram impedidos

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