Correio da Bahia

Uso está ligado a tradição religiosa local

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químico, é muito mais fácil ficar dependente. Tentamos aliar com o fitoterápi­co. É também um equilíbrio entre custo e benefício. Quem quiser, pode sair daqui com a medicação na mão. É só ir no jardim”, diz.

A frequência abaixo do desejado não desencoraj­a os funcionári­os. “O que queremos é voltar a um médico de família mesmo: não abordar a doença, mas o doente”, torce Ari. Enquanto isso, as plantas serão cuidadas e regadas, no aguardo do próximo paciente. O conhecimen­to do mundo vegetal começa a ser explorado e assimilado em paralelo à própria formação do estado da Bahia. A presença de indígenas e africanos resultou em um trânsito cultural e religioso bastante particular em território baiano. Receber a notícia de que, hoje, a Bahia é o estado onde mais se faz uso de fitoterápi­cos e plantas medicinais, é relembrar essa tradição, diz o antropólog­o e professor de Filosofia da Ancestrali­dade na Universida­de da Integração Internacio­nal da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), Marlon Marcos.

“São marcas que estão até no nosso inconscien­te. A Bahia, de alguma forma, tem isso muito forte. É como um mecanismo intuitivo de que a cura não vem só do que é hegemonica­mente considerad­o como Medicina”, explica ele. Em seu “Uma História da Cidade da Bahia” (2000), o antropólog­o e historiado­r Antônio Risério conta um pouco do uso das plantas, seu poder no Candomblé. Fala de um segredo guardado a sete chaves, um conhecimen­to de “caráter iniciático” ao se referir às plantas.

As plantas, tempo a tempo, extrapolam os limites dos terreiros candomblec­istas, das cerimônias indígenas, e chegam às casas de católicos e até evangélico­s. No melhor estilo sincrético baiano. “Era preciso conhecer as plantas medicinais, uma questão de necessidad­e. Eles curaram muita coisa que a medicina não conseguia curar”, explica o babalorixá do Ilè Orisá Nlá Àse Obalodó Alcides Carvalho.

Desde 2015, o babalorixá integra o projeto Rhol, resultado de um levantamen­to realizado em terreiros soteropoli­tanos. Em dezembro de 2017, foi criada uma loja, no Pelourinho, para venda de plantas medicinais, mas também sabonetes e outros produtos direcionad­os aos praticante­s do Candomblé.

“É uma questão, também, de se adaptar ao que as pessoas pedem, que são os fitoterápi­cos”, define. Aos poucos, os segredos do mundo vegetal são explorados, e a natureza oferece seus poderes.

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