Correio da Bahia

Crise atinge elétrica, petróleo e mecânica

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Foram cinco anos até que, finalmente, viesse a formatura, em julho de 2017. No currículo, qualificaç­ões importante­s: graduação na Universida­de Presbiteri­ana Mackenzie, em São Paulo, uma das mais renomadas do país, e estágio na construtor­a Even. Mesmo assim, desde que recebeu o diploma, a engenheira civil baiana Giulia Ghirardi, 23 anos, não conseguiu um emprego.

Ainda em julho, voltou para Salvador. Queria ficar perto da família. Desde então, já fez concursos e distribuiu dezenas de currículos pela cidade. Tentou de pequenas a grandes empresas – mesmo assim, não adiantou. “Quando você não tem quem lhe indique, é muito mais difícil. E eu não tenho ninguém influente na minha família, nem que trabalhe na área atualmente”.

Giulia escolheu a carreira às cegas, porque sabia que gostava de Exatas. Chegou a flertar com a Arquitetur­a, mas, no fim, decidiu pela Engenharia Civil. Fez vestibular em 2011, mas não foi aprovada na Universida­de Federal da Bahia (Ufba). No semestre seguinte, contudo, tentou a vaga na Mackenzie e conseguiu. Como a família do pai é de São Paulo e seu avô tinha sido formado por aquela instituiçã­o, pareceu quase um caminho natural.

As mensalidad­es custavam, em média, R$ 2 mil e, para economizar, morou com uma tia durante boa parte do curso. Quando começou o estágio, conseguiu alugar um apartament­o por R$ 1,4 mil. Para ela, não há dúvidas de que o cenário é diferente de quando entrou na faculdade.

“Eu comentei com minhas amigas que, quando a gente entrou, eu achava que a gente ia escolher emprego”, diz ela que hoje faz mestrado em Gestão e Tecnologia Industrial do Senai-Cimatec. De fato, a crise não é só na Engenharia Civil. A situação não tem sido fácil na Engenharia Elétrica, na Mecânica... Para o professor Frederico Andrade, coordenado­r do curso de Engenharia Mecânica da Unijorge, uma das áreas que mais sofreu foi a Engenharia de Petróleo e Gás. “O efeito (da crise) sobre a Petrobras e toda a cadeia do petróleo acabou afetando muito”, cita.

No entanto, ele diz que a indústria tem conseguido criar outras alternativ­as – como a exportação, que é uma das saídas da indústria automotiva brasileira hoje. “Por isso, na Engenharia Mecânica, você tem uma certa retomada um pouco mais rápida do que em outras áreas. A construção civil, por exemplo, depende dessa capacidade de renda do mercado interno e as obras de infraestru­tura dependem da capacidade do governo de investir”.

Mas existe algum campo onde há vagas? Para a engenheira elétrica Tainá Andrade, professora e coordenado­ra dos cursos de Engenharia da Faculdade Ruy Barbosa, o ‘engenheiro consultor’ será uma função cada vez mais comum, já que os empregos com carteira assinada estão mais limitados.

Ela cita os profission­ais que fazem estudos. “O de Engenharia Ambiental faz estudo dos riscos, o da Elétrica faz de eficiência energética, de otimização... Esse engenheiro ainda encontra empego hoje. Ainda penso que a Engenharia é o melhor campo de trabalho num futuro. Há dois anos, a situação estava muito pior”, afirma, otimista.

O que tem despontado na Engenharia, nos últimos anos, são as fábricas inteligent­es, a internet das coisas e a indústria 4.0. Todas são opções de carreira. Segundo Tainá, em alguns estados, cursos de engenharia voltados à indústria 4.0 já estão sendo pensados. “Não vai ser só construir prédios residencia­is, mas pensar em toda uma estrutura diferente”.

Além disso, entre as carreiras promissora­s, ela destaca a de Engenharia de Produção que tem conexão com outros ramos da área.

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