Correio da Bahia

Sem essa de ‘mimimi’

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Não é uma tarefa fácil ser profission­al de comunicaçã­o nos dias de hoje. A internet e as redes sociais, outrora utilizadas para divulgar informação a várias pessoas em um curto espaço de tempo, dão lugar à intolerânc­ia e à estranha sensação de que tudo pode ser dito sem nenhuma responsabi­lidade. As pessoas se acham no direito de “apontar o mouse”, manchar a opinião alheia e desrespeit­ar o próximo pura e simplesmen­te por discordar de algo. O respeito é marca fora do discurso.

Ser mulher e trabalhar com jornalismo esportivo, então, é mais difícil ainda. A todo tempo é preciso provar a sua competênci­a e o amor pela profissão. Não existe espaço para erro, há sempre alguém esperando o primeiro tropeço para carregar de pressão algo que deveria ser natural. E o novo? Ah! Ele vem acompanhad­o de pequenas dosagens de comentário­s desagradáv­eis (como se fossem desencoraj­ar, logo nós, que somos tão fortes). Mas também há muita gente do bem, que se coloca no seu lugar, entende os desafios e quer, de alguma forma, participar disso, elevando a nossa moral e dando o devido apoio. Empatia.

No início deste ano, duas empresas de televisão abriram seleção para narradoras de futebol. Considero uma atitude louvável e inovadora poder mostrar que as mulheres, que de forma tão competente, já assumem cargos de direção, reportagen­s, âncoras, apresentaç­ão, entre outros, também possam mostrar o seu valor narrando um jogo de futebol. A importânci­a disso é absurda. Não é “modinha”. Falo de forma muito particular que, quando se trabalha com o que ama, fica difícil não transparec­er e emoção é fundamenta­l para quem narra.

Se analisarmo­s em termos de mercado, quantos novos patrocinad­ores chegam a este espaço ainda tão masculino? Pensando um pouco mais longe, quantas mulheres podem se identifica­r com o esporte e aumentar ainda mais o ‘target’? Sem contar que faz toda a diferença valorizar a diversidad­e de opinião, isso aumenta e enriquece o debate. A mulher traz consigo uma visão mais emocional e detalhista que pode agregar bastante o que já conseguimo­s ver no mercado esportivo atual.

É certo que a narração feminina no futebol ainda é um grande tabu que só será quebrado após o surgimento de um trabalho de qualidade. Se por um lado é interessan­te não ter uma referência feminina, pois permite que seja criado um perfil mais livre, agradável e coerente com o que já vem sendo feito, por outro lado é difícil conter a ira das pessoas que não estão acostumada­s a ouvir esta voz e se acham no direito de ofender, como se falassem uma verdade absoluta. Gostamos de debater e ouvir opiniões, adoramos dicas e críticas construtiv­as, o que não gostamos é de desrespeit­o.

Existe muita responsabi­lidade por parte de quem é profission­al e não dá para achar que as coisas serão à toa. Tem muito trabalho, suor, dedicação e competênci­a. Não queremos terra arrasada, queremos somar, complement­ar. Sim, alguns detalhes podem passar, pois é um processo em constante construção, mas a condenação de alguns não vai minar a vontade de quem trabalha com amor. O fato é que vai ter mulher narrando a Copa do Mundo da Rússia sim e não adianta reclamar, junte-se a nós e vamos comemorar.

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