Gueto de inovação
O que gambiarras e mototáxis têm em comum? São soluções para resolver problemas do dia a dia das pessoas. Com ideias tão ou até mais criativas que essas, baianos têm feito história mundo afora com projetos inovadores e tecnológicos. Apesar de ser reconhecida como uma cidade cultural, Salvador ainda não é um polo de investimentos na área da inovação e tecnologia.Pensando nisso, a Vale do Dendê - organização que incentiva o empreendedorismo na periferia e no Centro Histórico de Salvador – criou um programa para impulsionar os negócios locais nas áreas de moda, gastronomia, artes e tecnologia.
A aceleradora - um guarda-chuva de conhecimento para ajudar os novos negócios - selecionou 30 projetos para a primeira etapa de pré-aceleração. Neste mês, os empreendedores participam de treinamentos no Espaço Cultural da Barroquinha para defender seus projetos a uma banca com integrantes da academia, executivos e empresários. “Somos um canal que dá ferramentas para que empreendedores promissores e de alto nível cresçam. Nesse primeiro ano, recebemos 107 inscrições”, explica Ítala Herta, diretora de operações da Vale do Dendê.
Foram avaliadas a viabilidade e a escala das soluções, além da inovação e criatividade. “Tecnologia social e na metodologia dos processos e do produto também são critérios avaliados nos projetos. As pessoas acham que a periferia não produz tecnologia, mas soluções criativas surgem a partir de situações de vulnerabilidade”, destaca.
O programa também busca evidenciar a efervescência da capital baiana, berço de ideias inovadoras tecnológicas: “Existe uma narrativa muito equivocada de que tecnologia é feita dentro de um laboratório, com um monte de homem branco. Mas as comunidades locais produzem muitas soluções”.Na seleção, a Vale do Dendê priorizou ainda negócios com mulheres, jovens, afrodescendentes e moradores de periferia, que não estão no radar dos grandes investidores.
Os dez projetos selecionados vão defender a viabilidade financeira e os benefícios para a sociedade das suas ideias nos dias 10 e 11 de maio. Ganharão também espaço de trabalho gratuito por seis meses e receberão apoio para encontrar investidores. Os próximos workshops do programa acontecem nessa sexta, sábado e domingo.
Exemplo de que a capital baiana não fica pra trás quando o assunto é tecnologia, o produtor de eventos Ricardo Silva, 36 anos, busca expandir a atuação do Gamepólitan maior evento de jogos do Norte/Nordeste - para cidades do interior do estado. Por isso, inscreveu uma versão menor do projeto no Vale do Dendê. “Temos uma grande parcela do público do interior do estado. Como não existe um vetor de convergência que chegue lá, não há noção de tudo que pode ser produzido nessas localidades. Quando acontece um evento como esse – que une gamers, investidores e mercado - impactamos a localidade como um todo. As pessoas passam a ver possibilidades no segmento de tecnologia e, quem já gosta, tem uma luz no fim do túnel”.
A jornalista Lorena Ifé, 29, também foi selecionada para o processo de pré-aceleração. A empreendedora criou um grupo no Facebook, o Afrodengo, que reúne mais de 40 mil pessoas negras interessadas em paquerar e quer transformar sua ideia em um aplicativo. “A existência dele funcionará também como forma de combate ao racismo, fortalecendo nossa rede”, afirma. Segundo ela, a Vale do Dendê fornece ferramentas para tirar sua ideia do papel. “A gente vive numa disparidade: pessoas brancas e de regiões privilegiadas têm mais oportunidades e acesso a conhecimento para desenvolver suas ideias. Com esse edital, mostramos que também temos boas ideias. Só precisamos de mais espaço”.
O quê: Palestra do programa de pré-aceleração Vale do Dendê com Maitê Lourenço, da BlackRocks Startups
Quando: Sexta (27), às 19h
Quanto: Entrada franca e aberta ao público
Onde: Espaço Cultural da Barroquinha (Praça Castro Alves - Salvador)