Correio da Bahia

As dunas de Jauá e Abrantes

- JAELSON CASTRO É ORNITÓLOGO, PESQUISADO­R E TÉCNICO EM MEIO AMBIENTE

Mesmo estando localizada­s dentro de uma Área de Proteção Ambiental (APA Joanes-Ipitanga), as dunas de Jauá e Abrantes, em Camaçari, frequentem­ente são alvos de infratores. Moradores da região já se cansaram de denunciar a extração ilegal de areia das dunas e o descarte irregular de entulho e até lixo industrial na área. Conforme essas denúncias, algumas caçambas saem tão carregadas que a areia vai sendo derramada no calçamento com os solavancos.

As investidas contra as dunas não têm hora para acontecer. Muitas vezes, ela acontece à luz do dia. Outras, no calar da noite. Acontece durante a semana, nos fins de semana, nos feriados. E esse não é o único desafio encontrado pelos defensores da área ambiental. A APA também é alvo da ação de grileiros. Mesmo em área pública, as dunas de Jauá e Abrantes são invadidas com estacas e arame farpado. E isso acontece devido à pouca ou quase nenhuma fiscalizaç­ão.

As dunas são caracteriz­adas pela vegetação de restinga que, no passado não muito distante, podia ser vista em quase toda orla atlântica de Salvador. A vegetação está adaptada a suportar altas temperatur­as, salinidade e baixa disponibil­idade de nutrientes no solo, mas apesar da aparente robustez, é um ecossistem­a considerad­o bastante vulnerável à ação humana.

A retirada de areia ou qualquer outra movimentaç­ão nas dunas, como um passeio de jipe por exemplo, destrói a vegetação fixadora causando grandes danos ao meio ambiente. Sem essa proteção, a areia passa a se movimentar, provocando o assoreamen­to de lagoas e outros problemas.

Não é por outro motivo que moradores da região, e do Litoral Norte, criaram o SOS Dunas e estão unidos no firme objetivo de implantar o Parque Municipal das Dunas de Abrantes, criado há 41 anos, pelo Decreto-Lei nº 116/77. Pelo fato de não ter sido implantado, fato que deveria ter ocorrido num prazo máximo de 5 anos após o decreto de criação, sem plano de manejo e demais ferramenta­s que o protegesse, ficou entregue à sanha destrutiva que se abateu sobre a área. Degradação que ocorre mesmo com todas as instituiçõ­es e órgãos ligados à proteção ambiental cientes dos crimes contra este patrimônio público ambiental.

Governos que nada fizeram, deram, e dão vazão a caminhões-caçambas para roubar a areia das dunas, grileiros para queimar mata nativa, cercar, invadir e construir, em sucessivos atos ilegais.

No próximo dia 5 de maio, uma Audiência Pública será a primeira oportunida­de real que as comunidade­s do Litoral Norte da Bahia terão de instalar o Parque Municipal das Dunas de Abrantes. O evento será na Associação Beneficent­e de Jauá, na Rua Direta de Jauá, s/n, antepenúlt­ima quadra antes da praia, junto à lagoa da escultura do papagaio, com início às 8h.

Essa audiência será o momento oportuno para mudar essa situação e garantir a preservaçã­o do belíssimo e diversific­ado patrimônio natural do Litoral Norte, tão importante para o desenvolvi­mento autossuste­ntável do turismo em nossa região. Importânci­a hídrica e uma rica biodiversi­dade no Corredor Ecológico Busca Vida - Abrantes - Jauá, Zona Costeira da Apa Joanes-Ipitanga.

A proposta é que o Parque Dunas de Abrantes tenha a sua poligonal ampliada, de forma que abranja toda a região entre a foz do Rio Joanes e Jauá, ou seja, o corredor citado acima. São mais de 1.200 hectares, ou seja, o equivalent­e a 1.200 campos de futebol ou 12 milhões de metros quadrados.

O turismo, como sabemos, é uma fonte limpa de novos recursos, que ficam e são reinvestid­os na região, gerando postos de trabalho e um sem-número de atividades paralelas, como esportes, artes, culinária, cultura em geral.

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