Correio da Bahia

Inquérito não aponta suspeitos

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O CORREIO teve acesso à casa onde Robson e a mulher, Juliana, viviam com as filhas. O imóvel de cinco cômodos, ainda em construção, está vazio desde o crime. Apesar da quantidade de poeira e sujeira, objetos das crianças ainda estavam no local.

“Eles dizem que não é possível afirmar que minhas netas estavam no carro. Como não? Olha aqui, fraldas das meninas, brinquedos espalhados. Como é que não estavam aqui?”, aponta o avô.

“E minhas sobrinhas estavam na casa, sim, por que eu as trouxe para ficar com os pais três dias antes”, reforça Paulo Roberto Gomes Lima, 39, outro irmão de Robson.

Apesar de a recusa de muitos moradores, duas mulheres concordara­m falar com o CORREIO. Uma delas, Rejane dos Santos, disse que, no dia do crime, as filhas delas brincaram com Sofia e Luna Morena: “Foi muito chocante o que aconteceu, principalm­ente para as meninas que não tinham nada a ver. Eu sinto falta delas. No dia, essas meninas brincaram tanto que pareciam se despedir”.

“Até hoje, quando acordo, lembro e fico muito triste. Sentimento grande de perda”, complement­a a dona de casa Juliana Santos Lima. De acordo com ela, Robson era uma pessoa tranquila.

Em maio do ano passado, a Polícia Civil disse que já tinha uma linha de investigaç­ão para as mortes em Pedrão. O crime pode estar relacionad­o a uma guerra entre duas das quatro facções criminosas que atuam na Bahia: Katiara e Bonde do Maluco (BDM).

À frente das investigaç­ões, o delegado titular de Pedrão na época, Henrique Moraes, disse que no carro onde estavam Juliana e Danilo havia inscrições do BDM.

Mas essa versão é contestada até hoje pelo pai de Robson. “Estou acostumado a acompanhar levantamen­to de crimes de facções e todas elas deixam as cápsulas como demonstraç­ão de poder. O carro tinha muitos tiros, mas nenhuma cápsula sequer, como se não quisessem deixar os vestígios de autoria”, declara Roberto. Para ele, a busca não para.

29 de abril de 2017 Os corpos de Danilo e Juliana são encontrado­s dentro do carro crivado de balas.

30 de abril de 2017 Familiares de Robin acham o corpo dele numa mata próxima ao carro. As meninas desaparece­ram. À frente das investigaç­ões do caso na época, o delegado Henrique Moraes encaminhou o inquérito ao Ministério Público Estadual em outubro do ano passado. O documento chegou à Comarca de Irará, no centro-Norte da Bahia, sem definição se Sofia e Luna Morena estavam ou não no carro em que os pais e o motorista foram mortos.

O entendimen­to do delegado foi baseado nos laudos do Departamen­to de Polícia Técnica (DPT). “São vários laudos e tem algumas perícias inconclusi­vas. Em relação ao sangue, não deu para concluir se as crianças estavam dentro do carro, só aponta o sangue de três pessoas”, disse o delegado ao CORREIO, sem revelar o nome das três pessoas. Ele trabalha hoje em Catu.

O inquérito foi para o MP-BA também sem indicativo de suspeitos. “Caberá ao promotor decidir pelo arquivamen­to ou pedir novas diligência­s. Não foi possível encontrar autores. Não havia testemunha­s. O inquérito seguiu com autoria indefinida”, declarou o delegado.

Ele disse que interrogou dez pessoas, todos vizinhos - o mais próximo mora a 200 metros do local do crime. “Intimamos todo mundo que morava perto, mas ninguém viu nada. O local é ermo. Era noite, zona rural, tudo fazenda, a pessoa mais próxima disse que só ouviu os disparos”, comentou.

Perguntado sobre detalhes do inquérito, como se a perícia encontrou brinquedos e outros objetos das meninas, o delegado Henrique Morais informou que pelo menos cinco pessoas participar­am da execução. “Foram vários disparos de calibres diferentes. No mínimo cinco pessoas participar­am do crime por conta dos tipos de calibre, um deles ponto 40, presume-se”, afirmou.

O CORREIO procurou o MP-BA por email e por telefone a fim de entrevista­r o promotor responsáve­l pelo caso – para saber se as investigaç­ões irão continuar ou não –, mas não obteve resposta.

O Departamen­to de Perícia Técnica (DPT) também foi procurado. O CORREIO pediu informaçõe­s sobre a perícia do crime, a presença das crianças no carro, objetos encontrado­s e exames feitos. Por meio da assessoria, o DPT informou que o assunto seria tratado com a comunicaçã­o da Secretaria da Segurança Pública (SSP-BA) que, por sua vez, não respondeu ao pedido.

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Casa onde Robson vivia com Juliana e as duas filhas está fechada desde o crime

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